“Fico surpreendido com a audácia com que algumas pessoas se encarregam de falar sobre Deus. Num tratado dirigido a ímpios, elas começam com um capítulo provando a existência de Deus mediante as obras da Natureza… Isto apenas confere aos leitores base para pensar que as provas de nossa religião são muito fracas… É notável o fato de que nenhum escritor canônico jamais fez uso da Natureza para provar Deus”. [1]
Antes de qualquer comentário, devo explicar que não pretendo resolver este conflito ético, religioso e filosófico. Apenas apresento minhas razões, a maneira como encaro o fato cristão do sofrimento estando a serviço de um Deus Todo poderoso e bom.
Será que para sabermos realmente quem é Deus deveríamos ter em mãos algum testemunho dele mesmo com uma revelação pessoal e infalível? Sim? Ora! A verdade é que o seu testemunho está registrado pelos escritores da Bíblia ao longo de cerca de 2000 anos! E se a Palavra de Deus ultrapassa questões filosóficas e culturais, e nos revela, em linguagem humana, os seus atributos, podemos, então, conhecê-lo através da Bíblia. “Podemos conhecer a Deus somente à medida que Ele se faz conhecido a nós. Deus comunicou a Si mesmo em palavras e proposições que foram registradas para nós nas Escrituras. Ele não Se calou, mas Se acomodou à nossa humilde capacidade para que possamos apreender o Seu propósito. Nossa fé não é baseada sobre qualquer especulação ou filosofia feita por homem, mas é baseada sobre a fé histórica Cristã que está registrada no cânon completo da Escritura. As Escrituras não possuem erros (inerrante e infalível) nos manuscritos originais, e representam a suprema e final autoridade para nossa fé e prática. A Bíblia é nosso guia em todos os assuntos de doutrina, prática da igreja, aconselhamento e comportamento individual”. [2]
Mas é tão difícil compreender Deus quanto compartilhar um sabor para alguém que nunca provou determinado prato ou fruto! Sabendo disto, para ultrapassar essa barreira, Deus usou o antropomorfismo [3] para se expressar; nós apenas devemos tomar o cuidado de não limitá-lo como homem, com características materiais, nem espiritualizá-lo como uma força universal e impessoal, e muito menos como uma lei, como algo abstrato.
Porque, apesar de toda a atual globalização, o mundo ocidental ainda mantém conceitos culturais e filosóficos bem diferentes do mundo oriental. Diferentes questões filosóficas “fermentam” discussões entre céticos e liberais, buscando provas para a ausência ou mesmo inexistência de Deus. Perguntas como: “Se tudo é possível para Deus, então não haveria limites para Ele?” poderiam ser formuladas da seguinte maneira: “Se nada é impossível para Deus, então poderia Deus criar algo ou alguém maior do que a si mesmo?”. Ou: “Se tudo é possível para Deus, por que, então, Ele não resolve a questão do mal?”. Se Deus não pode fazer algo assim, a solução seria que: ou Ele é limitado ou realmente não existe! No entanto, ao afirmar a existência de Deus, a Bíblia enfatiza a criação, seu planejamento e como Deus fez. Porquê? Porque Deus é invisível; se quisermos vê-lo, olhemos para as coisas que Ele tem feito. Outra coisa: Ele é silencioso também. Algumas vezes ele vai utilizar pessoas para falar por Ele. Logo, Deus pode ser “visto” e “ouvido”, mas não com sentidos humanos; precisamos de um outro condutor de sentidos espirituais. Precisamos de fé [4]:
“Ora, sem fé é impossível agradar-lhe; porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam.” (Hb. 11.6)
Logo, se Deus prefere ser invisível, viverei pela fé; se Ele prefere ser silencioso, vou fazer silêncio para ouví-lo melhor. Vou encher o meu coração com o que não posso ver e minha mente com aquilo que não posso ouvir “normalmente”: educarei teologicamente a minha imaginação. Lendo a Bíblia encontramos em Marcos 10.27, que “para Deus tudo é possível”. Contudo, não podemos ler essa passagem num contexto de filosofia delirante, é necessário compreender que Deus é soberano e está numa posição insuperável, nada poderia ser feito ou criado igual ou acima dele mesmo. Mas isso, de nenhuma forma, “limita” o Senhor Deus. Encontramos, então, um desequilíbrio na afirmação filosófica que usa critérios humanos para definir a Divindade. Eis aí a chave para tantos erros doutrinários nas seitas e nas reflexões de pensadores liberais: O uso de um critério humano, material e temporal para compreendermos um Deus invisível (espiritual), imutável e eterno é a causa de tantas distorções!
Como poderemos compreender Deus? Somente mediante sua revelação. E se alguém rejeita a Bíblia como a Palavra de Deus está fechando os olhos para uma fonte que pode ajudá-lo, a saber, de fato quem é Deus. E mesmo a Bíblia julgando e interpretando todas as minhas experiências espirituais, ela não é a única maneira de conhecê-lo; Deus fala de muitas maneiras e apesar da natureza ser a sua porta-voz, os relacionamentos, circunstâncias, sucessos e fracassos, alegrias e tristezas, arte e ciência também o são. Quando deixamos nosso entendimento, nossa mente, ser preenchido por aquilo que Ele fez/faz, quando vemos sua mão soberana controlando épocas e milhares de séculos, então podemos conhecê-lo:
“Desde a criação do mundo, os atributos invisíveis de Deus, seu eterno poder e sua natureza divina, têm sido vistos claramente, sendo compreendidos por meio das coisas criadas, de forma que tais homens são indesculpáveis; porque, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe renderam graças, mas os seus pensamentos tornaram-se fúteis” (Rm. 1.20).
“É notável o fato de que nenhum escritor canônico jamais fez uso da Natureza para provar Deus”, contrariando Pascal, o apóstolo Paulo usou o argumento da natureza, porque se Deus não existe, a vida humana deixa de ser valiosa, não tem significado ou propósito. Tudo é acidental e espontâneo. E sendo assim, o sofrimento apenas mostra a incapacidade humana para alcançar um altíssimo padrão de felicidade, e ainda revela as limitações da filosofia humanista, que mesmo muito popular e dizendo “você é o senhor do seu destino”, não pode fazer o homem adquirir a felicidade suprema porque ela está além do horizonte humano, pertencendo apenas a Deus e só por Ele podendo ser providenciada. Logo, perguntar se o universo como o vêem parece mais o trabalho de um Criador sábio e bom do que obra do acaso, é omitir desde o início todos os fatores relevantes no problema religioso do sofrimento humano. Consideremos alguns argumentos que apóiam a existência de Deus [5], com base também nas Escrituras, fonte incomparável do estudo teológico:
O argumento cosmológico. Afirma que tudo no universo físico teve uma causa, ainda que a evolução apresente uma fileira interminável de causas, certamente chegaremos a uma “causa primária”, uma causa maior do que qualquer dos seus efeitos. Causa essa que originou tudo (Rm 11.35,36).
O argumento teleológico. Toda a imensidão do universo, toda a multiforme existência de vida na terra e toda a complexidade dos seres vivos, principalmente a do ser humano (sua inteligência e moralidade) apontam para um Criador e Sustentador de todas as coisas (Is 40.26; Jo 1.1-3; Cl 1.15,17).
O argumento moral. A moralidade está presente em todas as culturas e raças da humanidade. Se tirarmos seus referenciais supersticiosos, veremos na humanidade um princípio moral. Todos os seres humanos de que a história ouviu falar reconhecem algum tipo de moralidade; isto é, têm em relação a certas atitudes propostas o sentimento que se expressa através das palavras: “Devo” ou “Não devo”. Essas experiências se assemelham à reverência em um aspecto, a saber, elas não podem ser logicamente deduzidas do ambiente e das experiências físicas do homem que as sofre. Você pode tentar escolher entre “quero” e “sou forçado a”, “será bom” e “não ouso” quanto tempo quiser sem tirar dessas frases qualquer dedução em relação à “devo” ou “não devo”. Todos os homens estão igualmente condenados, não por códigos de ética estranhos, mas pelo seu próprio, e assim todos têm consciência de culpa. O apóstolo Paulo escreveu: “Porque, quando os gentios, que não têm lei, fazem naturalmente as coisas que são da lei, não tendo eles lei, para si mesmos são lei; os quais mostram a obra da lei escrita em seus corações, testificando juntamente a sua consciência, e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os; no dia em que Deus há de julgar os segredos dos homens, por Jesus Cristo, segundo o meu evangelho” (Rm 2.14-16).
O argumento da história. A história demonstra a evidência de uma providência dominante. As profecias bíblicas, a respeito de muitas nações, alcançaram os seus cumprimentos (Jeremias, Isaías, Ezequiel, Daniel e também os chamados Profetas Menores). A própria existência da nação de Israel aponta para a providência divina (Jr 1.10). Vejamos:
“Em 1950 o relato da expedição dos arqueólogos franceses Prof. Parrot e Prof. Schaeffer sobre as escavações realizadas em Mari e Ugarit, falavam sobre inscrições cuneiformes encontradas em Mari, no médio Eufrates, que continham nomes bíblicos que situaram subitamente num período histórico as narrativas sobre os patriarcas, até então tomadas por simples “histórias piedosas”. Em Ugarit, na costa do Mediterrâneo, foram descobertos pela primeira vez os testemunhos do culto cananeu de Baal.
O acaso quis ainda que no mesmo ano se encontrasse numa caverna, próximo ao mar Morto, um rolo do livro do profeta Isaías, considerado de data anterior a Cristo. A porta para o mundo histórico do Antigo Testamento fora aberta já em 1843 pelo francês Paul-Émile Botta. Em escavações efetuadas em Khursabad, na Mesopotâmia, ele se encontrou inesperadamente diante das imagens em relevo de Sargão II, o rei assírio que despovoou Israel e conduziu seu povo em longas colunas. Os relatos das campanhas desse soberano relacionam-se com a conquista de Samaria, igualmente descrita na Bíblia. Há cerca de um século, estudiosos americanos, ingleses, franceses e alemães vêm fazendo escavações no Oriente Próximo, na Mesopotâmia, na Palestina e no Egito. As grandes nações fundaram institutos e escolas especializadas nesses trabalhos de pesquisa. Em 1869, foi criado o Palestine-Exploration Fund; em 1892, a École Biblique dos dominicanos de Saint-Étienne; seguindo-se, em 1898, a Deutsche Orientgesellschaft; em 1900, a American School of Oriental Research; e em 1901, o Deutscher Evangelischer Instituí für Altertumskunde.
Na Palestina, são descobertos lugares e cidades muitas vezes mencionados na Bíblia. Apresentam-se exatamente como a Bíblia os descreve e no lugar exato em que ela os situa. Em inscrições e monumentos arquitetônicos primitivos, os pesquisadores encontram cada vez mais personagens do Velho e do Novo Testamento. Relevos contemporâneos mostram imagens de povos de que só tínhamos conhecimento de nome. Seus traços fisionômicos, seus trajes, suas armas adquirem forma para a posteridade. Esculturas e imagens gigantescas mostram os hititas de grosso nariz, os altos e esbeltos filisteus, os elegantes príncipes cananeus, com seus “carros de ferro”, tão temidos por Israel, os pacíficos e sorridentes reis de Mari, contemporâneos de Abraão. Através dos milênios, os reis assírios não perderam nada de seu semblante altivo e feroz: Teglath Phalasar III, famoso no Velho Testamento com o nome de Fui Senaquerib, que destruiu Lakish e sitiou Jerusalém, Asaradão, que mandou pôr a ferros o Rei Manassés, e Assurbanipal, o “grande e famoso Asnafar” do livro de Esdras.
Como fizeram com Nínive e Nemrod, a antiga Cale, como fizeram com Assur e Tebas, que os profetas chamavam No-Amon, os pesquisadores despertaram do sono do passado a famosa Babel da Bíblia, com sua torre fabulosa. Os arqueólogos encontraram no delta do Nilo as cidades de Pitom e Ramsés, onde Israel sofreu odiosa escravidão, descobriram as camadas de fogo e destruição que acompanharam a marcha dos filhos de Israel na conquista de Canaã, e em Gabaon a fortaleza de Saul, sobre cujos muros o jovem Davi cantou para ele ao som da harpa; em Magedo descobriram uma cavalariça gigantesca do Rei Salomão, que tinha doze mil soldados a cavalo.
Do mundo do Novo Testamento ressurgiram as magníficas construções do Rei Herodes; no coração da antiga Jerusalém foi descoberta a plataforma (litostrotos), citada por João, o Evangelista, onde Jesus esteve diante de Pilatos; os assiriólogos decifraram em tábuas astronômicas da Babilônia os precisos dados de observação da estrela de Belém. Assombrosos e incalculáveis por sua profusão, esses dados e descobertas modificaram a maneira de considerar a Bíblia. Episódios que até agora muitos consideravam simples “histórias piedosas” adquirem de repente estatura histórica. Por vezes, os resultados da pesquisa coincidem com as narrativas bíblicas nos mínimos detalhes. Eles não só “confirmam”, mas esclarecem igualmente os acontecimentos históricos que originaram o Velho Testamento e os Evangelhos. As experiências e o destino do povo de Israel são assim apresentados, não só num cenário vivo e variegado, como num colorido painel da vida diária, mas também nas circunstâncias e lutas políticas, culturais e econômicas dos Estados e impérios da Mesopotâmia e do Nilo, das quais nunca puderam libertar-se inteiramente, durante mais de dois mil anos, os habitantes de estreita região intermédia da Palestina.
Na opinião geral, a Bíblia é exclusivamente história sagrada, testemunho de crença para os cristãos de todo o mundo. Na verdade, ela é ao mesmo tempo um livro de acontecimentos reais. É bem verdade que, sob esse ponto de vista, ela carece de integralidade, porque o povo judeu escreveu sua história somente em relação a Jeová e sob a ótica de seus pecados e sua expiação. Mas esses acontecimentos são historicamente genuínos e têm se revelado de uma exatidão verdadeiramente espantosa.
Com o auxílio dos resultados das explorações, diversas narrativas bíblicas podem ser agora muito mais bem compreendidas e interpretadas. É verdade que existem correntes teológicas para as quais o que vale é a palavra e nada mais que a palavra. “Mas como se poderá compreendê-la”, questiona o Prof. André Parrot, arqueólogo francês mundialmente famoso, “se não se puder encaixá-la no seu preciso quadro cronológico, histórico e geográfico?”
Até agora o conhecimento dessas descobertas extraordinárias era privilégio de um pequeno círculo de peritos. Ainda há meio século, o Prof. Friedrich Delitzsch perguntava-se, em Berlim: “Para que tantas fadigas em terras distantes, inóspitas e perigosas? Para que esse dispendioso revolver de escombros multimilenários, até atingir as águas subterrâneas, onde não se encontra ouro nem prata? Para que essa competição das nações no sentido de assegurarem para si o privilégio de escavar essas áridas colinas?” O sábio alemão Gustav Dalman deu-lhe, em Jerusalém, a resposta adequada, quando expressou a esperança de que, um dia, tudo o que as pesquisas “viram e comprovaram seria não só valorizado em trabalhos científicos, mas também utilizado praticamente na escola e na igreja”. Isso, porém, ainda não aconteceu.
Nenhum livro da história da humanidade jamais produziu um efeito tão revolucionário, exerceu uma influência tão decisiva no desenvolvimento de todo o mundo ocidental e teve uma difusão tão universal como o “Livro dos Livros”, a Bíblia. Ela está hoje traduzida em mil cento e vinte línguas e dialetos e, após dois mil anos, ainda não dá qualquer sinal de que haja terminado a sua triunfal carreira.
Durante a coleta e o estudo do material, que de modo algum pretendo seja completo, ocorreu-me a idéia de que era tempo de os leitores da Bíblia e seus opositores, os crentes e os incrédulos participarem das emocionantes descobertas realizadas pela sóbria ciência de múltiplas disciplinas. Diante da enorme quantidade de resultados de pesquisas autênticos e seguros, convenci-me, apesar da opinião da crítica cética, de que desde o século do Iluminismo até nossos dias tentava diminuir o valor documentário da Bíblia, de que a Bíblia tinha razão!” [6]
Não podemos esquecer que nos três primeiros séculos de nossa era, a religião cristã expandiu-se tanto por todo o Império Romano que se tornou à religião oficial do mesmo no ano de 323. Neste período ocorreu uma mudança colossal na mentalidade humana e entre as conseqüências dessa mudança está uma grande busca de Deus e do fazer-se santo, obedecendo-o e submetendo-se por completo a sua vontade e palavras divinas. Mesmo que para isso as pessoas tivessem que sacrificar a felicidade terrena e vir a tornar-se um mártir. Para essas pessoas o importante era ser cristão, era imitar ou copiar o comportamento e caráter de Cristo e, definitivamente, entrar salvo em seu reino [7].
Mas o cristianismo não é a conclusão de um debate filosófico sobre as origens do universo ou de Deus, e sim um evento histórico que se seguiu ao longo preparo espiritual da humanidade. Não se trata de um sistema no qual temos de encaixar o fato embaraçoso do sofrimento: mas é ele mesmo, um dos fatos embaraçosos que precisam ser enquadrados em qualquer sistema por nós planejado. O cristianismo cria o problema do sofrimento, porque a idéia do que Deus “poderia” ter feito envolve um conceito excessivamente antropomórfico da liberdade de Deus. O que quer que seja o significado da liberdade humana, a liberdade divina não pode significar indagação entre alternativas e a escolha de uma destas. A bondade perfeita não pode jamais estar em dúvida quanto ao fim a ser alcançado, e a perfeita sabedoria não pode vacilar quanto aos meios mais adequados para chegar a esse fim: A liberdade Divina consiste no fato de que nenhuma outra causa além dele mesmo produz os seus atos e nenhum obstáculo externo os impede. Deus pode permanecer em silêncio. Para o mundo, liberdade é não ter restrições nenhuma; é a condição de ser isento ou não estar sujeito a certas coisas. Mas Deus criou o homem e colocou limites no seu ir e vir, Deus estabeleceu regras desde o princípio para sabermos como Ele é e como gostaria que agíssemos (Rm. 11.32). Parafraseando Lacan: viver de desejos não traz a felicidade. É preciso viver a vontade divina na prática para mitigarmos o nosso sofrimento e o alheio.
“O verdadeiro significado de ser humano é a luta para viver por idéias e ideais. E não medir a vida pelo que obtiveram em termos de desejos, mas pelos momentos de integridade, compaixão, racionalidade e até auto-sacrifício. Porque no final, a única forma de medir o significado de nossas vidas é valorizando a vida dos outros” [8].
Ou seja: precisamos ser “Bem-aventurados”. Os padrões do sermão da montanha são altíssimos e suas leis, as leis do Reino de Deus, são escritas no coração: ame os inimigos, contenha a luxúria, domine a raiva, não julgue. A mansidão será recompensada, dor aniquilada, desejos legítimos realizados. Veremos a face de Deus, se formos pacificadores e não provocadores de guerra, receberemos lugar de honra. O humilde e não o orgulhoso, será exaltado. Mas quem corresponde às expectativas? Porque o pobre permanece pobre, o faminto sem ser alimentado; o sem-teto, procurando abrigo, e os quebrantados de coração ainda tem razões para lamentar-se. Vejamos o que ocorreu em 2006, na América do Norte: Um homem armado invadiu uma escola Amish no estado da Pensilvânia e matou 5 meninas. Os Amish formam um grupo religioso protestante que repudia qualquer forma de violência em função de seu entendimento de autoridade moral do ser humano e dos ensinamentos de Jesus. Quando aquelas inocentes foram mortas, a comunidade Amish anunciou perdão para o assassino, afirmando que não haveria violência nem vingança; somente a oferta de perdão. A viúva do assassino pronunciou-se agradecida e emocionada e afirmou que isso proporcionava a cura que ela e seus três filhos tanto necessitavam [9]. O bom uso da liberdade dos Amish impediu maior sofrimento a sua comunidade e aos outros a sua volta.
“Se Deus fosse bom, Ele desejaria fazer suas criaturas perfeitamente felizes, e se Deus fosse todo-poderoso poderia fazer tudo o que quisesse. Mas as criaturas não são felizes. Portanto, falta a Deus bondade, poder, ou ambas essas coisas”. Este é o problema do sofrimento em sua forma mais simples. A possibilidade de responder a ele depende de mostrar que os termos, “bom” e “todo-poderoso”, e talvez também o termo feliz, são ambíguos: pois deve ser admitido desde o início que se os significados populares ligados a essas palavras forem os melhores, ou os únicos possíveis, então o argumento é irrespondível” [10].
Se Deus é mais sábio do que nós, o seu julgamento deve diferir do nosso sobre muitas coisas, e não apenas sobre o bem e o mal. O que Deus faz agora dentro de nós, prenuncia o que fará por nós um dia, abertamente, para que vejamos. O que nos parece bom pode então não ser bom aos olhos dEle, e o que nos parece mau pode não ser mau. O sofrimento produz extraordinárias mudanças interiores que nos preparam para viver em um mundo que se recusa a mudar. Por outro lado, se o juízo moral de Deus varia em relação ao nosso, de forma que o “branco” para nós possa ser “preto” para Ele, não estamos dizendo nada quando O chamamos de bom; pois declarar “Deus é bom”, ao mesmo tempo em que afirmamos ser a sua bondade inteiramente diferente da nossa, seria realmente dizer “Não sabemos o que Deus é”.
“As inexoráveis ‘leis da natureza’, que operam em desafio ao sofrimento ou mérito humano, e que não são detidas pela oração, parecem, à primeira vista, fornecer um forte argumento contra a bondade e o poder de Deus. Mais uma vez, a liberdade de uma criatura deve significar liberdade de escolha: e escolha implica na existência de coisas a serem escolhidas. Uma criatura sem ambiente não teria escolhas a fazer: assim sendo, a liberdade, como a autoconsciência (se não forem na verdade a mesma coisa) exige novamente a presença no ‘eu’ de algo além do ‘eu’. A condição mínima de autoconsciência e liberdade seria então que a criatura devesse apreender a Deus e, portanto, ela mesma fosse diferente de Deus. Sua liberdade é simplesmente aquela de fazer uma única e singela escolha: amar a Deus mais do que ao ‘eu’ ou ao ‘eu’ mais do que a Deus”. [11]
“O amor pode suportar e pode perdoar.., mas o Amor jamais pode reconciliar-se a um objeto que cause desamor… Ele jamais poderá, portanto, reconciliar-se com o seu pecado, porque o pecado por si mesmo é incapaz de ser alterado; mas Ele pode reconciliar-se à sua pessoa, por que esta pode ser restaurada”. [12]
E tudo começa com uma mudança da nossa mentalidade egoísta para uma mentalidade altruísta. Como um exercício de Romanos 12.2, podemos começar pedindo ao Espírito Santo que nos ajude a perceber as necessidades das pessoas ao nosso redor, principalmente as necessidades espirituais; para que façamos o que tem que ser feito por elas; para que sejamos servos das pessoas como Cristo nos ensinou, precisamos substituir o pensamento imediatista pelo pensamento com perspectiva eterna. Isso vai evitar que demos importância excessiva a questões pequenas e nos ajudará a distinguir entre o urgente e o eterno. Não troquemos nossas vidas por coisas temporárias, mas invistamos nossas vidas em cumprir os propósitos de Deus. Por último, paremos de pensar em desculpas para não servir a Deus e comecemos a pensar em formas de cumprir o Seu propósito. Você nasceu para adorar, viver em comunhão, ser semelhante a Jesus, servir as pessoas e exercer o ministério da reconciliação.
Como as Escrituras afirmam, os bastardos é que são estragados: os filhos legítimos, que devem continuar a tradição da família, são corrigidos (Hb. 12.8). Com nossos amigos, nossos entes queridos e filhos, somos exigentes: preferimos vê-los sofrer a ser felizes em estilos de vida desprezíveis e desviados. Se Deus é amor, Ele é, por definição, algo mais do que simples bondade. E, embora tenha com freqüência nos reprovado e condenado, jamais nos considerou com desprezo. A relação entre Criador e criatura é naturalmente única e não pode ser comparada a quaisquer das demais relações entre uma criatura e outra. Deus está, ao mesmo tempo, mais distanciado e mais próximo de nós do que qualquer outro ser. Ele faz, nós somos feitos: Ele é o original, nós os derivados. Mas, ao mesmo tempo, e pela mesma razão, a intimidade entre Deus e a menor das criaturas é mais próxima do que qualquer relacionamento humano mais profundo.
“O problema de reconciliar o sofrimento humano com a existência de um Deus que ama só é insolúvel enquanto associarmos um significado trivial à palavra “amor” e considerarmos as coisas como se o homem fosse o centro delas. O homem não é o centro. Deus não existe por causa do homem. O homem não existe por sua própria causa. “Porque todas as coisas tu criaste, sim, por causa da tua vontade vieram a existir e foram criadas”.” (Ap. 4.11) [13]
Experimentemos, então, o tempo futuro do Reino: “venha o teu Reino. Seja feita tua vontade, assim na terra como no céu”. Aqueles que conhecem a Deus e têm sido transformados de dentro para fora, podem descobrir a alegria profunda sobrepondo-se às circunstâncias, apenas vivendo neste mundo como dependentes do Deus silencioso e invisível [14]. Apenas vivendo por fé e não por vista.
Pedir que o amor de Deus estivesse satisfeito conosco na condição em que nos encontramos, mergulhados no pecado, é pedir que Deus deixe de ser Deus: porque Ele é o que é, o Seu amor deve, na natureza das coisas, ficar impedido e sentir repulsa por certas nódoas em nosso caráter, e porque já nos ama ele precisa esforçar-se para nos tornar dignos de amor. Não podemos sequer desejar, em nossos melhores momentos, que ele se reconcilie com nossas impurezas presentes; O que chamaríamos aqui e agora de nossa “felicidade” não é o alvo principal que Deus tem em vista; mas, quando formos aquilo que Ele pode amar sem impedimento, seremos de fato felizes.
[1] PASCAL, Pensées, 4, 242. 243
[2] http://www.monergismo.com/distintivos.htm
[3] Antropomorfismo: linguagem que usa a forma humana para explicar os atributos invisíveis de Deus.
[4] Cf. WHY IS GOD SILENT, James Long, 1ª edição, Zondervan Publishing House, Michigan, 1994.
[5] Conhecendo as DOUTRINAS DA BÍBLIA, Myer Pearlman, Ed. Vida.
[6] Retirado do prefácio do livro E A BÍBLIA TINHA RAZÃO, de Werner Keller; título do original em língua alemã: UND DIE BIBEL HAT DOCH RECHT , 1955 Econ Verlag GmbH, Düsseldorf e Viena, tradução de João Távora; tradução das atualizações de Trude von Laschan Solstein Arneitz, 18ª Edição, 1992, Melhoramentos, São Paulo.
[7] A FILOSOFIA EXPLICADA À MINHA FILHA, Roger-Pol Droit, 1ª edição, Martins Fontes, São Paulo, 2005.
[8] Retirado de uma das aulas de filosofia do Dr. David Gale, em Harvard, no blog: http://latencia.blogspot.com/.
[9] Revista ENFOQUE GOSPEL, pág. 70, novembro de 2007.
[10] THE PROBLEM OF PAIN, C.S. Lewis, Tradução de Neyd Siqueira, 2ª edição, 1986, escaneado e distribuído sem quaisquer fins lucrativos pelo Herbert Lopes, devido ao esgotamento completo da obra em todas as livrarias no ano de 2002.
[11] idem item 9.
[12] TRAHERNE, Centaries of mifeditation, 2, 50.
[13] idem item 10.
[14] idem item 4.
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