“Sem alarde, a sociedade estática se tornou dinâmica, sujeitando praticamente todas as regras à experimentação. Não existe mais coisa de homem, de mulher, de criança ou de velho. A sexualidade se tornou apenas uma dentre as várias manifestações de uma identidade maleável, que se adapta a cada ocasião. As antigas correntes de pensamento foram combinadas em um ecletismo transmídia, em que hipsters meio intelectuais fazem Yoga em sessões de Pilates, assistem a Missa do Galo, se vestem de branco e atiram flores para Iemanjá.
(…)
Vivemos hoje uma espécie de adolescência, fase turbulenta e necessária, característica de uma mudança de fase. Como a puberdade, não adianta criticá-la, ignorá-la ou classificá-la. É preciso assimilar suas mudanças para reconfigurar a forma de se comportar perante o mundo. Caso contrário a angústia, o estresse e o consumo só aumentarão. E as respostas não virão.” 1
Todo discurso filosófico ou científico também pode ser lido como narração, talvez isso aconteça porque ciência e filosofia pretendam simplesmente dizer a mesma coisa? Uma verdade qualquer através de uma estrutura narrativamente atraente? Ainda que hoje as Artes e a Literatura possuam tal incumbência, a mim parece que muitos filósofos renunciaram a dizer a verdade; explico: é comum os intelectuais e filósofos, ao tentarem modificar as normas e padrões sociais vigentes, colocarem do lado do “natural” uma série de conceitos relativos ao mundo e a história, e do lado “sobrenatural” tudo o que é relativo ao sagrado e espiritual. Este dualismo não se sustenta visto que opomos como duas grandezas iguais, Deus e o homem, revelação divina e razão, graça e pecado. Ora, teologicamente, o sobrenatural nada mais é que o natural elevado ao nível do seu propósito divino visto através da fé. Em todo caso, cito aqui uma passagem de Deleuze na Lógica do Sentido para ilustrar este aparente “pará ten doxan” (paradoxo):
“O interior e o exterior, o profundo e o alto, não tem valor biológico a não ser por esta superfície topológica do contato. É, pois, até mesmo biologicamente que é preciso compreender que ‘o mais profundo é a pele’. A pele dispõe de uma energia potencial vital propriamente superficial. E, da mesma forma como os acontecimentos não ocupam a superfície, mas a frequentam, a energia superficial não está localizada na superfície, mas ligada a sua formação e reformação (p. 106).”
O próprio termo natureza humana para muitos já está desgastado e sem sentido, principalmente no que se refere à dicotomia: feminino e masculino. Aliás, este é um artifício que Almodôvar (no filme “A pele em que habito”) utiliza, o jogo do travesti, pois como a filósofa americana Judith Buttler destaca na sua Queer Theorie2, em que o travesti se enquadra, será que temos de enquadrá-lo em algum termo? Na ida cotidiana a um banheiro público, em qual banheiro ele tem de ir? Masculino e feminino. Um paradoxo que, como a evolução, têm por princípio motivador ir nos dois sentidos ao mesmo tempo, assim como Alice, em Alice no país das maravilhas, não cresce em relação a que era sem estar a diminuir em relação a que será.
Cada dia que passa estas reivindicações homossexuais estão se tornando comuns. Muito do que está ocorrendo provém da globalização, isto é, a crescente interdependência e intercomunicação mundial, o que está criando uma cultura uniforme para todas as sociedades. Os jovens, principalmente, experimentam essa realidade. Pela primeira vez na História, jovens africanos, europeus, asiáticos e americanos têm um padrão de comportamento comum. Com o advento da globalização cultural, as reivindicações de direitos dos gays são agora um fenômeno presente e crescente em quase todas as nações.3
“O impacto dos movimentos sociais, e do feminismo, em particular, nas relações entre os sexos deu impulso a uma poderosa onda de choque: o questionamento da heterossexualidade como norma. Para as lésbicas, separar-se dos homens, origem de sua opressão, foi a consequência lógica, se não inevitável, de sua visão da dominação masculina como o motivo pelo qual as mulheres se encontram em situação tão precária. Para os gays, o questionamento da família tradicional e as relações conflitantes entre homens e mulheres proporcionaram uma abertura para explorar as novas formas de relacionamentos pessoais, inclusive novas formas de vida familiar, as famílias gays. Para todos, a liberação sexual, sem limites institucionais, tornou-se a nova fronteira da auto-expressão. Não na imagem homofóbica de procura incessante por novos parceiros, mas como afirmação da própria personalidade e nos experimentos com a sexualidade e o amor. “4
Vemos que na prática o tal “ecletismo transmídia” não passa de uma e a todo momento tentada, “reforma” do status quo; a filosofia de tolerância dos ativistas gays exige que, na prática, seja colocada uma coleira nos direitos à liberdade de expressão e reunião daqueles que não aceitam o comportamento homossexual. Os que se mostram contrários às suas práticas passam a ser acusados de discriminadores. Nos Estados Unidos, o movimento homossexual já alcançou significativos avanços legais e os grupos gays brasileiros lutam também para alcançá‐los. Naquele país, homens e mulheres de fé e consciência estão sendo sistematicamente visados, simplesmente porque creem na ordem moral estabelecida por Deus. Muitos já perderam o emprego ou foram disciplinados por não aceitarem as exigências da ideologia homossexual. Maior ainda é o número dos que estão de boca fechada por temerem que suas famílias sofram retaliações.
Mas por que esses americanos se tornaram vítimas de tanta intolerância? Porque se opuseram às tentativas dos militantes gays de alterar legalmente a definição de casamento, para que deixe de ser apenas a união de um homem e uma mulher, forçando todos os cidadãos a fingir que é tudo a mesma coisa. Porque se colocaram contra a promoção do homossexualismo às crianças nas escolas e foram contrários a que os homossexuais adotassem crianças.
A verdade, porém, é que o movimento homossexual está apenas começando seu grande projeto de “homossexualização” geral. Por isso precisamos conhecer seu sentido e impacto na sociedade e nas igrejas. Ter uma visão clara desse fenômeno que, direta ou indiretamente, está afetando as estruturas sociais de hoje e, com certeza, desafiará diretamente os crentes de amanhã. Enquanto os líderes cristãos dormem em seu posto de vigia, o inimigo sente‐se livre para agir. Por isso, as sociedades sueca, norueguesa e dinamarquesa, cuja maioria absoluta da população é evangélica, têm a legislação mais favorável ao homossexualismo no mundo. Eles tornaram‐se como Ló e acomodaram‐se às novas condutas. Preferiram aceitar os homossexuais sem rejeitar o homossexualismo. E o movimento soube tirar proveito disso. Como o Senhor disse: “O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento…” (Os 4.6.) Olhando por este ângulo, fica fácil encarar a discussão de temas sociais como a homossexualidade, como uma grande procura de rótulos e, assim, a discussão foge da própria condição do próprio pensar humano: o acontecimento em si. Mas se aquilo que acontece não está na ordem da norma, apenas se dá, é o movimento da diferença que não pode ser apreendida num processo de objetificação, porque onde não há regras reconhecíveis, também não há desvio das normas.
É por isso que o homossexualismo não pode mais ser apresentado ao público como um comportamento sexual anormal. Tal censura, em nome da neutralidade moral, de revelar ao público e às crianças nas escolas que essa conduta é errada foi uma vitória importante alcançada pelo movimento homossexual. E ainda existe a ideia de que se 10% dos alunos de uma sala de aula são potencialmente homossexuais, então suas inclinações sexuais têm de ser protegidas contra a verdade. Eles não podem ser instruídos nem motivados a rejeitar a sodomia. Eles nem mesmo têm o direito de saber que o homossexualismo é uma agressão à natureza. E a educação sexual e o psicólogo da escola muitas vezes serão os encarregados de mantê‐los no escuro.
Entretanto esse total de 10% não corresponde à verdade. Ele é totalmente falso, conforme escreve a Dra. Judith Reisman, em seu livro Kinsey, Sex & Fraud. Aliás, sua conhecida pesquisa informa que os homossexuais não passam de 2% da população. Apesar disso, o movimento insiste em promover seus 10% e outras informações incorretas.
Além de trabalhar para manter homens e mulheres presos ao homossexualismo, o movimento também está empenhado em proteger os gays e as lésbicas contra o evangelismo cristão. Os ativistas se enfurecem quando alguém se converte a Jesus e abandona o homossexualismo! Eles costumam pregar a tolerância e tentam fazer‐nos acreditar que tudo o que o movimento homossexual deseja é uma sociedade aberta, na qual os homossexuais possam conviver em harmonia com outras pessoas. Mas a realidade mostra que eles estão dispostos a ser condescendentes apenas com os que aceitam suas práticas sexuais.
Contudo nós, cristãos evangélicos, precisamos despertar e agir, de modo que esse movimento não tire vantagem da nossa falta de informação e inércia social. Se não alcançarmos os homossexuais comuns com o amor de Jesus agora, mais cedo ou mais tarde, os militantes irão recrutá‐los. Nós somos sal e luz e devemos influenciar a sociedade e ajudar a preservar seus valores éticos e morais (conforme Mateus 5.13‐16). Caso contrário, a liderança homossexual introduzirá seus próprios padrões em todas as esferas sociais. A própria mídia não é contrária à estas tendências, ao contrário, poderia até ser acusada de ser tolerante, demasiadamente tolerante. O problema é se a piedade e o terror que ela provoca levam realmente a uma catarse.
1- Extraído de http://www1.folha.uol.com.br/colunas/luliradfahrer/1027652-uma-longa adolescencia.shtml
2- http://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_Queer
3- “O movimento homossexual”, Julio Severo, Primeira edição, Editora Betânia, 1998
4- Fragmento extraído do texto “O fim do patriarcalismo: movimentos sociais, família e sexualidade na era da informação”, in: CASTELLS, Manuel. O Poder da Identidade. vol. 2. São Paulo: Paz e Terra, 2000.