NADA DE NOVO

Neste novo século onde vivemos a expectativa de uma mudança, ampla e geral em todos os âmbitos da existência humana, a grande maioria segue uma filosofia de vida, que recomenda pôr o prazer das pequenas coisas do cotidiano no centro de tudo, na hora de tomar suas decisões mais corriqueiras; embasados no pensamento dos filósofos epicureus, dizem eles que simplicidade é tudo. Ou como dizem os ateus: “Provavelmente Deus não existe. Agora pare de se preocupar e aproveite a vida”.
Estas decisões tomadas pela “gente” moderna, na grande maioria são baseadas nos princípios do Humanismo, que seria certa ética laica e atéia, que se baseia em duas premissas: a ciência e o progresso da humanidade. Essas duas premissas indicam que o homem é capaz de dar rumo próprio à sua vida e à sua evolução, ou seja, é senhor de seu destino.
A maioria dos pessoas que se dizem atéias e humanistas, conscientes ou não de que estão usando valores e princípios do humanismo, acreditam que usam uma inovação conceitual muito grande em oposição à tradicional ética religiosa e seus princípios, valores e premissas. No entanto, essa é a maior farsa do humanismo. À origem deste conceito, é complementarmente tomada da religião. O livre-arbítrio é um conceito religioso, da tradição judaico-cristã, disseminado no mundo pelo cristianismo. O Humanismo nada mais fez do que tomar o conceito emprestado e dar-lhe uma bela roupagem, oferecendo-a como uma novidade. E como hoje é quase pecado estudar religião, ler sobre, ou debatê-la, os supostos ateus e combatentes das religiões ficam assim sem ter a menor idéia da origem da maioria das suas idéias laicas e humanistas.
Estranhamente, quem invoca Darwin e sua biologia evolutiva não tem nenhum motivo para acreditar que o homem possa ser dono de seu destino. Esse é o paradoxo do qual os doutores “combatentes da religião” nem se dão conta.
Segundo Darwin, a evolução é descontrolada, obedece somente ao princípio da sobrevivência e da adaptação ao meio. Nenhuma espécie é capaz de controlar a si mesma, decidir sua evolução e seus desdobramentos, e esses se dão de modo aleatório, obedecendo a regras biológicas e da natureza que colocam o homem no patamar de um mineral: totalmente dependente de forças que estão fora do seu controle.
Toda a crença de que o homem pode se tornar melhor, e criar uma humanidade melhor vêm da tradição judaico-cristã, e está sendo perpetuada pelos leigos, nas mais estranhas ideologias e nas utopias mais fantásticas, atrozes e irracionais, mas que muitos creram ou crêem com “racionalidade” em todas elas, incluindo ateus, e as assumiram como realizável:

Um mundo melhor quando forem abolidas as classes sociais (marxismo)
Um mundo melhor quando levarem a democracia ao Iraque, Afeganistão, Coréia do Norte (qual o nome disso?)
Um mundo melhor quando os judeus forem dizimados (nazismo)
Um mundo melhor quando a religião for abolida (ateísmo?)
Um mundo melhor quando todos se converterem ao Islã (islamismo)
Um mundo melhor quando destruirmos o Islã (‘neo’ guerra santa?)
Um mundo melhor quando… Coloque o que você quiser.

O fato é bem mostrado em Eclesiastes, e por toda a Bíblia também, o homem não evoluiu nem uma palha. A tecnologia e a ciência evoluíram sim, mas o homem continua com sua natureza pecadora inalterada: ora fazendo o que há de mais sublime, quando segue a ética do Reino de Deus e ora fazendo as maiores atrocidades quando se baseia na ética humanista moderna, onde impera a vontade, e o conhecimento humano simplesmente. Não há nada que aponte que a humanidade melhorou desde os tempos antigos, lá pelas bandas do Oriente Médio até hoje. Outro fato é que, tudo o que se consegue em termos morais e éticos pode ser perdido em uma geração.
Por isso o livro de Eclesiastes nos recomenda justamente o contrário do que temos visto e ouvido; como em todo o Velho Testamento ele nos ensina a tratar das coisas de Deus, aqui na Terra, nesta geração, com respeito e cuidado, afinal, o Senhor criou todas as coisas e somente Ele pode nos ensinar a usar e dispor de tudo com inteligência. E para exemplificar melhor, o escritor nos conta que teve muitas mulheres, mas aí percebeu que isto não traz nada; conta que teve muito dinheiro, mas sobrou apenas o vazio; que trabalhou duro e também isto pouco significou. Que estudou e fez-se sábio, mas que continuava o mesmo. Ele diz que tudo o que podemos fazer já foi feito, “Não há nada de novo sob o Sol”.

“Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de colher;
Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar;
Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar;
Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de se afastar;
Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de jogar fora;
Tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de silêncio, e tempo de falar;
Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e há tempo para a paz”.

Uma curiosidade é que Raul Seixas e Marcelo Nova também fizeram um rock sobre esta declaração: “e como diziam os Eclesiastes, há 2 mil anos atrás, debaixo do sol não há nada novo, não seja tolo, meu rapaz…” (faixa “Rock’n’roll” em “A Panela do Diabo”).
Então, Eclesiastes é um livro que não determina regras, permitindo ao leitor tirar suas próprias conclusões; um pensamento chave do livro é: trabalhar e usufruir o fruto do próprio trabalho. É cheio de observações e reflexões fundamentais para a existência e relacionamentos humanos em nossos dias, mesmo tendo sido feitas e debatidas há mais de 3000 anos, numa época de tecnologia rudimentar, e meios de comunicação a lombo de burro na melhor das hipóteses. Mas o espírito humano está lá, fruto das mesmas inquietações básicas de toda a humanidade.
Não é uma reinvenção do óbvio como pensam alguns, pois ao apresentar a vida como nulidade longe de Deus, Eclesiastes prepara o caminho para a revelação da dinâmica do céu: “O Reino está onde o Rei está”, deixando claro que à vontade de Deus é a sua atividade; o que Deus fala ele faz e vice-versa. O livro também deixa, ao seu leitor no final, uma profunda reflexão a respeito da maneira adequada de viver com um repentino: “Teme a Deus, e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo o homem”.
E ao tratar dos ciclos de vida, Eclesiastes se afina com a tradição judaico-cristã, quando leva sempre em conta “os tempos” de nascimento, acasalamento, procriação e morte, que são também marcados por rituais e festas. Hoje a vida laica se despojou desses ciclos, não oferecendo às pessoas a opção de honrar ou festejar algumas dessas etapas (só não dá para fugir mesmo do “tempo de nascer, e tempo de morrer”, dos outros tempos sempre dá para escapar).
É claro que todos somos conscientes de nossa transitoriedade, da nossa finitude, mas às vezes parece que no mundo de hoje as pessoas esqueceram que vão morrer, esqueceram que possuem uma alma imortal. Esqueceram também que nos foi retirada à opção de ser triste; desapareceu o tempo “da lamentação”, do “luto”. Por causa disso, ironicamente, nunca se viu tanta depressão. Esqueceram, fundamentalmente que “o que foi é o que há de ser; e o que se fez, isso se tornará a fazer; nada há, pois, novo debaixo do sol”.

Sobre lucaspinduca

I'm part cultural voyeur mixed with a splash of aspiring behavioral scientist and wannabe motivational Christian speaker.
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