SALGANDO A TERRA

Olhando um pouco para fora de minha janela me propus uma questão: A Igreja é necessária ainda? É ainda sinônimo de Reino de Deus? Ou este modelo de Igreja, que estamos vivendo, já está ultrapassado? Porque o grande problema de ser ‘igreja’ hoje é justamente ter que viver de acordo com todas as implicações morais e comportamentais inerentes. Porque a Igreja Cristã NÃO pode ser permissiva ao ponto de se descaracterizar e deixar que diluam o mandamento divino; “Porque somos criação de Deus realizada em Cristo Jesus para fazermos boas obras, as quais Deus preparou de antemão para que nós as praticássemos.” (Aos Efésios 2:10). Ou seja, não temos só que nadar contra uma corrente, mas lutar contra todas as correntes de modismos e novas “doutrinas”, muitas vindas diretamente de Pastores virtuais, televisivos e midiáticos, porque a verdadeira obra da igreja, o serviço que é necessário ser feito, continua sendo o mesmo desde a igreja primitiva: pregar a salvação, prover meios de adoração e comunhão e finalmente, sustentar uma norma de conduta moral que ensine aos homens como viver bem, e a maneira de se preparar para a morte (algo muito negligenciado em nossa época).
Como Witherspoon bem sustentou a contribuição da “verdadeira religião” para a ordem pública é a moralidade de seus adeptos. Ou dito de outra forma, a influência do evangelho na sociedade vem por meio de vidas transformadas. E essa influência é conduzida primeiramente pelos pastores da igreja. Witherspoon ainda escreveu:

“O retorno que se espera deles [pastores] para a comunidade é que, pela influência de seu governo religioso, estas pessoas possam ser os cidadãos mais regulares, e os membros mais úteis da sociedade. Espero que ninguém aqui vá negar que os costumes do povo em geral, são o momento máximo para a estabilidade de qualquer sociedade civil. Quando o corpo de um povo está completamente corrompido em suas práticas, o governo está maduro para a dissolução.” 1

A igreja é a luz do mundo que afasta a ignorância moral; é o sal da terra que a preserva da corrupção moral. Ok. Mas devem ser os seus líderes os primeiros a expor o erro e o engano não somente com uma mensagem inspirada, também com uma conduta ilibada, assim como fez Jesus Cristo; senão, sofreremos da epidemia que reduz Deus a coisas temporais da igreja ou na igreja. E como dito por Myer Pearlman:

“A crença em um Cristo meramente humano levaria o povo a considerar a igreja como uma sociedade meramente humana, útil, sim, para propósitos filantrópicos e morais, porém destituída de poder e autoridades sobrenaturais. Por outro lado, um conhecimento do Cristo glorificado resultará no reconhecimento da igreja como um organismo, um organismo sobrenatural, cuja vida divina emana da Cabeça – Cristo ressuscitado.2

Se a verdadeira igreja deve proclamar o plano de DEUS para regulamentar todas as esferas da vida e sua atividade, e deve combater contra todas as tendências para a corrupção da sociedade ela precisa levantar a sua voz de admoestação. Ainda que neste sentido, homens e mulheres pós-modernos não “precisam mais” de pastores e sacerdotes tradicionais que falam das fraquezas do homem, eles já estão fartos de suas fraquezas e precisam de “autoafirmação”, e mais do que isso, precisam de uma “receita” breve, rápida, curta e para o agora de como podem resolver seus males e conseguir suas satisfações. (Nesse ponto quero fazer uma nota irresistível: a difusão dos blogs também se deve aos escatológicos títulos que o internauta deve bem conhecer, tais como “Saiba como…”, “Tudo sobre…”, “Os 10 melhores/maiores…”, “Descubra aqui como…”, essas breves notas despontam acenando aos desesperados que buscam consolo na leve virtualidade)3
É necessário que em todos os momentos de perigo seus líderes devem acender luzes e agitarem bandeiras, guiando sempre para o verdadeiro Evangelho. Talvez a confissão de pecado que a Igreja Cristã acentuadamente dogmática e institucionalizada tenha que fazer seja por ter tirado Deus do centro e colocado em seu lugar coisas referentes a Ele. Ora, O Espírito Santo pode agir dentro das estruturas que criamos, mas age também a despeito delas. E boas leis podem ter uma casca podre por algum tempo a envolvendo, mas em pouco tempo todas as leis devem dar lugar a maré da opinião popular, e ser jazentes em prática universal. Daí resulta claramente, que os professores e governantes de todas as denominações religiosas são obrigados mutuamente uns aos outros, e para toda a sociedade, vigiar a conduta de seus vários membros.
Como poderiam então estes pastores, influenciar as pessoas a serem “os membros mais úteis da sociedade”? Ou como eles podem “vigiar a conduta cristã de seus vários membros”? O homem é um ser social que deseja ter comunhão e fazer intercâmbio de amizade. É natural que ele se congregue/agrupe com aqueles que participam dos mesmos interesses. É quando, uma vez juntos, reunidos, a igreja deve “alimentar” estes com refeições que sejam reforçadas e robustas; os líderes devem ser capazes de ensinar e estimular as boas práticas, encorajando a igreja a fazer a ação necessária como sal e luz neste mundo.
Como bem nos ensina Jesus no Evangelho de Marcos capítulo 6 versículo 37, parte a: “Ele (Jesus Cristo), porém, respondendo, lhes disse: Dai-lhes vós de comer”. Logo, a igreja ficou responsável por doutrinar seu rebanho e por testemunho, também o mundo, salgando-o. E para que isso se torne uma realidade é preciso que seus líderes permaneçam todo tempo fiéis à doutrina de Cristo. Ou já nos esquecemos do conselho paulino?

“Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? e como crerão naquele de quem não ouviram? E como ouvirão se não há quem pregue? E como pregarão se não forem enviados? Como está escrito: Quão formosos os pés dos que anunciam o evangelho de paz; dos que trazem alegres novas de boas coisas. Mas nem todos têm obedecido ao evangelho; pois Isaías diz: Senhor, quem creu na nossa pregação? De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus.” (Aos Romanos 10:14-17).

Pois a busca incessante pelo acúmulo de sensações de prazer, que se produz na teia das incertezas onde o paraíso e o inferno se entrelaçam no cotidiano cria condições para uma procura crescente por “mestres”, “gurus”, “autoridades”, ou “deuses humanos” capazes de “vender” produtos que possam intensificar as sensações de prazer. Isso não implica que as “casas divinas” fechem suas portas, mas em novas diretrizes de adaptação a essa ordem do consumo para que não se tornem obsoletas. As instituições religiosas passam a ser, antes de tudo, empresas que se confrontam com as leis – agora humanas – da economia liberal na difícil competição do mercado, competindo por almas potenciais que, em troca do “conselho” para se dar bem na trama social, oferecem o que podem no momento. Daí porque muitos Pastores vivem tentados a impressionar os ouvintes com o poder das suas palavras. E quando nos damos conta de que o teor estético das mensagens sobrepuja a espiritualidade, já estamos viciados em técnicas de oratória. É um efeito perverso, que se volta, cedo ou tarde, contra o próprio pregador. É preciso lembrar sempre que “O sal da terra não zomba da carne estragada”4.
Se a Igreja tem a marca da personalidade do seu líder, outra coisa que precisa ser dita então, é que Jesus revolucionou todo o conceito existente acerca da liderança quando nos ensinou que o estilo de liderança Cristã está relacionado ao serviço e não ao status (Mateus 20:20-28). Ou seja: na medida em que o cristão cresce mais servo ele se torna. Quanto maior o líder maior o servo (Marcos 9:35). E a maioria dos líderes parece não querer viver este ensino porque na medida em que o cristão cresce menos vontade própria ele tem. Quem quiser ser o primeiro terá que ser o último (Mateus 20:27).
Ou seja: Precisamos voltar ao Evangelho na essência porque a igreja é um centro de treinamento, não o clube recreativo ou uma empresa que muitos a vem transformando. Quando Jesus projetou a existência de uma sociedade de seus seguidores, que daria aos homens sua Doutrina (Evangelho) e ministraria à humanidade no seu Espírito, Ele deu sua própria vida para isso. E prometeu continuar até o fim concedendo sua vida à sociedade e a igreja (I Epístola de Pedro, Capítulo 2, versículo 20 ao 25).
Então, enquanto a igreja for obediente ao mandamento bíblico e ir por todo mundo pregando o evangelho a toda as criaturas ela será necessária e poderosa. Quanto à existência desta Igreja em um mundo que menospreza seu líder e seus membros a cada dia, termino citando Fénelon, um teólogo do século 17:

“Não fique tão aborrecido quando homens maus e mulheres más o defraudam. Deixe-os fazer como lhes agrada; busque apenas fazer a vontade de Deus […] Paz silenciosa e doce comunhão com Deus o recompensarão por todo o mal que lhe foi feito. Fixe os seus olhos em Deus.”

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1- “Thanksgiving Sermon,” in Works, 5:265, quoted in Jeffry H. Morrison, John Witherspoon and the Founding of the American Republic, (Notre Dame, Indiana: University of Notre Dame, 2005), 23), paragraphing and emphasis added.
2- “Conhecendo as doutrinas da Bíblia”, Myer Pearlman, pag. 120, Editora Vida, 1970.
3- Parte extraída de http://www.eternoretorno.com/2008/10/14/religiao-e-consumismo-os-deuses-nas-vitrines-da-pos-modernidade/
4- Tradução minha de J. Piper.

Sobre lucaspinduca

I'm part cultural voyeur mixed with a splash of aspiring behavioral scientist and wannabe motivational Christian speaker.
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