“Deuses criados pelo coração são os mais perigosos. Os de barro conseguimos ver, já os do coração são invisíveis, são protegidos como parte dos nossos sentimentos” – Aldair Queiroz
Eu sei que a visão global é laica, está conforme o senso comum, não contradiz a razão e queremos ser felizes, mas isto é possível sem necessariamente cumprir os códigos de sucesso prevalecentes? Sem ter Boas notas na escola, sem um bom trabalho (de prestígio, se possível), sem fazer boas viagens, tudo à luz do conhecimento de todos?
Imaginem um universo paralelo em que o sucesso e a competição não atuassem como combustível para a nossa sociedade. Um mundo em que aspirar às primeiras posições e ser o melhor da classe não importaria nem um pouco. Um universo onde estar apenas bem seria bom. Seria muito bom mesmo. Entretanto, não sei o que nós estamos pensando. Estamos sempre querendo apenas aquela comida que parece muito boa e cara, querendo mais uma televisão super smart, uma casa linda em um local chic, alguns também querem o carro mais estiloso. Mas nós não fomos deixados aqui para somente ter essas coisas1.
O envolvimento com uma crença ou uma fé (muitas vezes não atreladas a uma religião tradicional) podem trazer novamente a dimensão da esperança. É quando os problemas enfrentados passam a serem vistos como oportunidades para um novo começo, pois a mudança faz parte da vida de qualquer ser humano. É quando aqueles que já passaram ou mudaram, os grandes homens de sucesso, atletas e artistas tornam-se modelos para a maioria das pessoas. Suas opiniões, ideias e perspectivas pessoais são mais acreditáveis que dogmas ou doutrinas porquê podemos customizar e contextualizar as partes que consideramos mais importantes. É exatamente nesse ponto em que dois fundamentos se contradizem e oscilam que os valores culturais são construídos. Por isso entendemos que o mundo não está de cabeça para baixo, o ser humano sim, e diferentemente das leis da física, que estão livres de inconsistências, toda ordem criada pelo homem é cheia de contradições internas. As culturas estão o tempo todo tentando conciliar essas contradições, e nesse processo alimentam todas as mudanças.
Às vezes, fazemos sacrifícios com a finalidade de alcançar uma vida mais plena e feliz; no entanto, muitas vezes não chegamos ao estado de êxtase ou plenitude que desejamos. A decepção pode levar-nos a rejeitar a disciplina que tínhamos empreendido, ou no pior dos casos, pode nos desmoralizar até o ponto de pensar que “Deus se esqueceu de nós”. Qualquer que seja a reação, está só nos mostrando que cometemos um erro. E um erro pode ser corrigido.
Infelizmente por causa do pragmatismo e utilitarismo da nossa cultura toda a nossa autocritica está errada. E os nossos modelos de sucesso, que são humanos, também. Pois os objetos, desejos e conquistas deles são igualmente perecíveis. Eles têm todas essas coisas que desejamos e aquilo que não perece ou é intangivelmente verdadeiro eles não têm também. Ora, se nós somos novas criaturas a causa e o efeito de tudo está em Cristo (a conduta humana deve agir de acordo com a vontade de Deus) e, portanto, é contraditório seguir simplesmente uma tradição cultural. Além disso, como cristãos já deveríamos saber que Deus tem o melhor para os seus filhos. A parábola do filho pródigo nos ensina isso. Que toda a dor da humanidade vem daí, da descoberta de saber que vivemos através das épocas e Deus esteve sempre governando tudo e nós apenas fingindo não saber.
É preciso deixar esclarecido também que a sanfona, o violão, a moto, a bicicleta, o cavalo, o status social, todas essas coisa que parecem não estragar nunca, sempre acabam assim: nós podemos ter, mas amanhã ou depois de amanhã, já deixamos de lado ou jogamos no lixo, porque tudo o que satisfaz os desejos do ser humano vivo tem a durabilidade perecível deles. Nesse caso, a realidade ignora nossas aspirações porque o desejo é apenas o ideal da consciência humana. É como se fosse um deus para aquele que imagina, ou pretende tomar o seu lugar, mas não o alcança, como foi bem mostrado na parábola dos cegos e o elefante (que pode ser entendida como uma teoria sobre a realidade)2: onde os homens se comportam diante da verdade buscando apenas uma parte e acreditando conhecer o todo. E por isso continuam tolos. Isso nos incomoda tanto porque estamos todos envolvidos em algum projeto e sempre colocamos as coisas debaixo da etiqueta “deu certo” ou não. Claro, muitas vezes o projeto que descrevemos é apenas teórico, mas a visão é real. Embora seja apenas um sonho, representa nossas maiores aspirações3 que deverão ser postas em prática durante a jornada de sua realização algum dia, onde sempre existe uma real possibilidade de não ser como queremos por mais simples que seja o projeto, isso parece bastante difícil de ser aceito, pois “nossa sociedade ocidental nos faz acreditar todos os dias nos artigos do LinkedIn e do Medium que tudo é possível através de muito trabalho e auto-sacrifício”4. Porque Somos pragmáticos demais funciona por um tempo.
Mas junte a tudo isso o fato que os homens morrem, todo ano morrem, cada noite, cada manhã, estão morrendo e seus criativos sonhos também. Eles ficaram destinados a isso depois que erraram para com Deus, desobedecendo-o. E mais, maltrataram o Filho dele e fizeram mais mal para si mesmos. Ainda assim Cristo insistiu em resgatar a dignidade humana de ser e de continuar a existir. E apesar de saber que existem pessoas confortáveis em não saber tudo, em apenas saber que há várias possibilidades e a verdade final não lhes interessa realmente.
Lembro aqui uma máxima bíblica: Tudo é possível ao que crê. E crer em Cristo é submeter-se ao seu domínio e ter um relacionamento íntimo com Ele. Quem quiser viver bem nesta terra precisa ser manso como ele. Mansidão é serenidade e resolução. Ser tranquilo e também determinado. Não é nada fácil ser amansado, mas possível a todo aquele que se entrega ao Senhor.