Seu modo de enxergar a vida molda sua vida.
Por isso, um rápido mergulho nos relacionamentos e mal-entendidos modernos nos fala de sentimentos atávicos a qualquer ser humano, cujos desejos e apreensões são os mesmos, e acaba nos forçando ver que o que governa as tensões da sociedade, no fim das contas, é o eterno choque entre Eros e Thanatos.
Por isso aconselho a você, jovem ou não, leitor, que escreva, perca, quebre, tente e responda: “Eu não sei”. Vá para os estágios passados, ame, resista, cante uma música. Pegue o trem, diga a verdade a todos, fique em casa longe da festa, alimente outros (pode ser com comida ou inspiração). Ande de bicicleta com os braços levantados, incline-se para fora da janela, uive na escuridão e encontre paz na fome. Viva a vida contra a corrente, sem arriscar sua vida, mas também sem arriscar viver com a falta dela. Morra completamente exausto de tanto viver…
Apenas leve em consideração uma coisa: para os estóicos, a felicidade não depende de coisas externas que nos dão prazer ou nos tira o sono. Simplesmente porque não podemos controlar o que é externo, o que não está ao nosso alcance. Essa busca por controlar algo além de nossos pensamentos e atitudes é a causa de muitas dores, ansiedade e expectativas frustradas.
Em outras palavras, por mais paradoxal que pareça, a felicidade está na aceitação de dores e dificuldades que inevitavelmente nos afetarão. É o famoso “Aceita que dói menos”. Muitos vêem essa postura como fatalismo ou conformismo, mas os verdadeiros estóicos dirão que é resiliência diante das dificuldades.
Como cristão, eu ainda acrescento: tome cuidado para que a sua visão de mundo não esteja baseada em uma metáfora falsa, que você tenha recebido de alguma fonte falível. Metáfora de vida é aquela figura que lhe vem à mente quando você imagina seu modo de viver, seu destino daqui para frente. Óbvio que terá que contestar o pensamento convencional e secular, substituindo pelas metáforas cristãs e bíblicas da vida, se realmente quiser, siga este conselho bíblico:
“Não vivam como vivem as pessoas deste mundo, mas deixem que Deus as transforme por meio de uma completa mudança da mente de vocês. Assim, vocês conhecerão a vontade de Deus…*
Então, desejo que você viva o suficiente para olhar para trás, irreconhecivelmente. Que os cheiros de sua juventude – o pão com manteiga, os livros antigos, o oceano visto pela primeira vez – não o transportem mais. Quero para você algo especial em seus últimos anos, algo único; uma revelação.
Para você, juventude remanescente, admiração geral, nova emoção – esse é o tipo de velhice que espero. Que a pequena semente do seu belo começo permaneça em todas as maneiras de como você sorri para tudo novo – mas nada mais. Que todos possamos sobreviver aos nossos ‘passados’.
Os anos passam rapidamente e nos levam a lugares diferentes. Por exemplo, nestes últimos dias passei um longo período sabático forçado pela pandemia. Afastei-me de tudo e todos, encontrando uma colônia de viagens e um baú de fantasias para descansar. Deixei minha mente vagar, para Portugal, Algarve, Berlim, Londres… Eu podia sentir isso na base da minha espinha. Aprendi a relaxar e tirar da cabeça o que é desnecessário. Voltei para casa e acariciei meu filho, alimentei o cachorro e pensei sobre os limites da vida. Não sei mais onde é… mas como tudo hoje é tão fluido, voltei a apreciar o cheiro de café moído e churrasco com os familiares e amigos, sinto-me satisfeito, tirando fotos, caindo, lutando para viver e manifestar a minha gratidão. Hoje me sinto bem lá ou cá. Mas nunca esqueço: tudo na vida é um teste.
- Warren, Rick. Você não está aqui por acaso. Tradução James Monteiro, São Paulo, Editora Vida, 2005.