Devocionais para não devotos XIX

Nós precisamos ter a visão de Deus. Temos de nos enxergar como pessoas preciosas ao Senhor. Contudo, para que passemos a nos ver como Deus nos vê, é necessário que tomemos algumas atitudes.

Despertar do Sono do Autodesprezo

“E digo isto a vós outros que conheceis o tempo: já é hora de vos despertardes do sono…” (Romanos 13.11.)

Será que realmente tem importância aquilo que pensamos de nós mesmos? Sim, tem. Se pensamos que somos lixo, nossa tendência será agir como lixo.
Algumas pessoas não conseguem ter amigos, porque estão convencidas de que não têm nada a oferecer-lhes.
Enquanto acharmos que não prestamos para nada, enquanto estivermos preocupados com o que os outros pensam de nós, teremos muita dificuldade em amar o nosso próximo e até mesmo a Deus.
Quando ficamos no quarto, nos lamentando, com pena de nós mesmos, nos aproximamos do nível perigoso de achar que não temos valor nenhum.
Mas não somos “um joão-ninguém”, sem lugar no mundo. Deus nos criou e fez de nós, em algum lugar, um ser muito precioso.

Crer que Somos a Menina dos Olhos de Deus

Davi nos deixou uma importante lição no versículo 8 do Salmo 17. Ele se expôs aos olhos de Deus. O salmista desejava ser visto como realmente era. Depois disso estava pronto para ver Deus face a face. Davi orou:

“Guarda-me como a menina dos olhos, esconde-me à sombra das tuas asas.”

A expressão menina dos olhos é muitas vezes usada nas Escrituras. No hebraico, significa “o homenzinho dos olhos” ou “a filha dos olhos”.
Uma interpretação para essa expressão tem como base o que vemos quando olhamos bem de perto nos olhos de alguém. Vemos a nossa própria imagem. Se estamos bem perto da pessoa, vemos o nosso próprio reflexo. Se aplicarmos esse fato ao nosso relacionamento íntimo com Deus, o significado é que ele está olhando para nós. Então entendemos que somos o centro da atenção divina e que podemos ver a nós mesmos como somos quando virmos a nós mesmos através dos olhos de Deus.
Outra interpretação de “menina dos olhos” é que Deus nos ama e nos dá tanto valor como o damos à nossa própria vista. Nesse caso, a menina dos olhos é a pupila.
Charles Spurgeon faz o seguinte comentário sobre essa expressão:
“Parte alguma do corpo é mais preciosa, mais delicada e mais cuidadosamente guardada do que os olhos; e a parte dos olhos que deve ser guardada com maior cuidado é a central, a pupila, ou a ‘menina dos olhos’.
“O sábio Criador colocou os olhos num lugar bem protegido; estão cercados por ossos que se projetam como os montes ao redor de Jerusalém.
“Além disso, seu grande Autor os circundou com muitas túnicas interiores, além do cercado que são as sobrancelhas, a cortina que são as pestanas e a cerca que são as pálpebras; além disso tudo, ele deu aos homens um valor tão grande para com seus olhos e uma apreensão de perigo tão instantânea, que parte alguma do corpo é mais fielmente cuidada do que o órgão da visão.”
Assim como damos valor às pupilas e ao maravilhoso dom da visão, da mesma forma o Senhor cuida de cada um de nós.
O Senhor nos vê, nos conhece, cuida de nós e jamais nos abandonará. Seu amor ilimitado cura as nossas mágoas. Quando percebemos que somos a menina dos olhos de Deus, sentimos a divina graça que é infinita.
Vemos o nosso reflexo em seus olhos não como a pessoa que temos sido, mas como o milagre que podemos vir a ser.

Endireitar Nossos Conceitos Teológicos Errados
Temos de permitir que Deus e sua Palavra consertem nossas falsas ideias. É impossível uma pessoa viver de maneira certa, se seus conceitos são errados. Não podemos praticar a verdade, quando acreditamos num erro.
É falso o conceito de que Deus se agrada de uma atitude de auto depreciação, que ela é parte da humildade cristã e necessária à nossa santificação e desenvolvimento espiritual.
A verdade, porém, é que a auto depreciação não é a verdadeira humildade cristã. Essa atitude acha-se em oposição a alguns dos ensinamentos básicos da fé cristã.
O maior mandamento é que amemos a Deus com todo o nosso ser. O segundo é que amemos ao nosso próximo como a nós mesmos. Não temos aqui dois, mas três mandamentos: amar a Deus, amar a nós mesmos e amar aos outros.
Se você amar a Deus, a si mesmo e aos outros estará cumprindo toda a lei de Deus (Mateus 5.43-48). Esse é o eterno princípio do triângulo – um amor correto para com Deus, por nós mesmos e por outras pessoas.
A pessoa que possui uma imagem própria baseada no que Deus diz, é mais saudável, em todos os sentidos, do que aquelas que têm uma imagem própria negativa. Foi assim que Deus nos criou, e se agirmos de modo contrário, não apenas estaremos seguindo um conceito teológico errado, como também correremos o risco de ser destruídos.

“Porque, pela graça que me foi dada, digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo além do que convém; antes, pense com moderação, segundo a medida da fé que Deus repartiu a cada um.” (Romanos 12.3.)

Pensando com moderação, não iremos nem nos subestimar nem nos superestimar. É Satanás quem nos confunde e nos cega nessas questões, pois nos faz acusações:
– Olhe aí, você está ficando muito orgulhoso…
Contudo a verdade é justamente o contrário. A pessoa que tem uma imagem própria negativa está sempre tentando se mostrar. Ela tem de provar que está certa, em todas as situações, tem de mostrar seu valor. E geralmente fica tão envolvida em si mesma, que se esquece do Senhor.
Ninguém pode amar os outros incondicionalmente, quando precisa ficar o tempo todo tentando provar seu valor próprio.
A autonegação não tem nada a ver com a humildade cristã, nem com a santidade. A crucificação do eu e a entrega pessoal a Deus não exigem uma autoimagem inferior, que é diferente do que o Senhor pensa de nós.

“Visto que foste precioso aos meus olhos, digno de honra, e eu te amei, darei homens por ti e os povos, pela tua vida.” (Isaías 43.4.)

Entender que Nosso Senso de Valor Próprio Deve Vir de Deus
Temos de formar nosso senso de valor próprio a partir do que Deus diz, e não dos falsos reflexos que vêm das outras pessoas, do diabo e, até mesmo, do nosso passado.
Temos de fazer uma escolha que definirá a nossa vida: vamos dar ouvidos a Satanás e a todas as mentiras que ele nos diz, às distorções e às mágoas do passado que nos mantêm aprisionados por certos sentimentos e conceitos acerca de nós mesmos, que não são cristãos nem saudáveis? Ou buscaremos nosso senso de valor próprio em Deus e em sua Palavra? Não temos o direito de menosprezar ou depreciar uma pessoa (nós) a quem:

• Deus ama tanto.
Não devemos nos dizer: “Bom, sei que Deus me ama, mas não gosto de mim mesmo.” Isso é um insulto a Deus e ao seu ilimitado amor. Quando desprezamos um ser que é criação de Deus, estamos, na verdade, dizendo que não gostamos da “criatura” e não apreciamos muito o “Criador”. Na verdade, não estamos vendo o quanto Deus nos ama e o quanto significamos para ele.

• Deus honrou tanto.
“Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus; e, de fato, somos filhos de Deus…” (1 João 3.1.)
Quando nos consideramos desprezíveis e sem valor, sendo filhos de Deus, essa falsa humildade fere o coração do Senhor.

• Deus dá tanto valor.
Dificilmente, alguém morreria por um justo; pois poderá ser que pelo bom alguém se anime a morrer.

“Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo Fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores.” (Romanos 5.7,8.)

Deus deixou bem claro o valor que temos para ele. Ele nos atribui um valor tão elevado, que entregou a vida de seu Filho para nos salvar.
De onde tiraremos a base para formar nossa imagem própria? Das distorções de nossa infância? Das mágoas do passado e das falsas ideais que foram colocadas em você? Ou será que preferiremos dizer:
“Não, não darei mais ouvidos a essas mentiras do passado. Não escutarei o que Satanás diz, já que ele é o acusador, e me envia mensagens confusas e falsas. O diabo nos cega e quer distorcer tudo. Vou escutar a opinião que Deus tem de mim, vou deixar que ele me programe, até que o bom conceito que ele tem de mim passe a ser o meu, atingindo até o mais íntimo dos meus sentimentos.”
Permitamos que Deus nos ame, e deixemos que ele nos ensine a nos amar a nós mesmos, e a amar aos outros. Desejamos ser amados. Queremos que Deus nos dê segurança, que nos aceite. E, aleluia, ele faz isso. Contudo, por causa da programação nociva que recebemos de outras fontes, temos dificuldade em aceitar esse amor. Aliás, isso é tão difícil, que talvez prefiramos continuar a ser como éramos.
Querido, eu o desafio neste momento a iniciar esse processo de restauração, para que possa erguer bem alto sua cabeça, como filho ou filha de Deus.

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Viva a vida que você ama e ame a vida que você vive.

Tem alguém cansado de “agarrar a possibilidade de ser bom e crescer, junto com a vontade de ler, aprender e experimentar coisas novas ”? Deveria ter lido o livro de Eclesiastes.

Há 20 séculos as pessoas procrastinam como você hoje: adiam, atrasam, dão desculpas e deixam seus prazos desaparecerem. O filósofo romano e estóico Sêneca, certa vez brincou dizendo que uma coisa que todos os tolos têm em comum é, estão sempre se preparando para viver, mas nunca o fazem de verdade.
Sei que chegar até aqui foi um trabalho árduo – porque no último ano você perdeu o rumo (todos perderam!) e a partir disso sua jornada foi mais difícil do que você pensava que seria! Mas, vamos! Nunca pense pequeno, como eu sempre digo, se você tem um sonho, torne-o grande!
Também sei que o quê representamos para os outros nos deixa muito preocupados e, geralmente, dedicamos muito mais tempo ao que os outros vão pensar do que cultivar o que podemos nos tornar. Mas não tenha medo, meu amigo: eu sei que você pode fazer isso. Não estou dizendo que tenho poderes de clarividência, mas sei que você pode superar a meia-idade lamacenta e atoleiros culturais por causa de um simples fato: você está aqui. Você está pensando. Você está tentando. Não é fácil, mas você decidiu que seu sonho é importante o suficiente para dedicar seu tempo… e isso é tudo o que precisa. Parafraseando o filósofo Soren Kierkegaard :

“Se eu pudesse desejar algo para mim, não desejaria riqueza ou poder, mas a paixão da possibilidade; Queria apenas um olho que, eternamente jovem, ardesse de vontade de ver a possibilidade ”.

Agarre a possibilidade que vier e faça a coisa certa e você descobrirá algo no final: você gosta mais de ganhar do que de perder. Caso contrário, quanto mais tivermos consciência dessa jornada selvagem, maior será a chance de dar vida aos nossos sonhos. A apatia e o risco desnecessário devem ser minimizados. Sim, as coisas não são mais as mesmas, mas as estrelas ainda ficam no mesmo lugar. Às vezes, as coisas não saem de acordo com o planejado. Ferramentas quebram, fios se cruzam, a paciência se desfaz. E nessas ocasiões, ajuda saber exatamente o que aconteceu para que não aconteça novamente. Momentos como esses são quando nos voltamos para uma pergunta simples, mas extremamente eficaz: você já se esforçou para dar vida a uma nova visão criativa? Porque tudo flui para algo maior, certo?

Sabemos que somos animais dotados de uma arma de sobrevivência, a inteligência, e não deuses que moldam o mundo segundo seus próprios pensamentos. Contudo, a capacidade humana de atenção tem um limite natural. Só algumas poucas coisas podem ser verdadeiramente importantes de cada vez. E nós, humanos, somos capazes de dedicar uma grande energia à busca do nada e a mistura de pensamentos inúteis e absurdos.

Começamos este texto falando sobre este assunto, porque precisamos olhar para trás, para o ontem como fonte de aprendizado, sem, no entanto, ficarmos paralisados; afinal, precisamos também olhar para frente onde o futuro com todas as suas potencialidades nos espera. Porque nada é permanente. Tudo muda. Essa é a única coisa que sabemos com certeza neste mundo. Mas ainda vou reclamar disso. E em ordem cronológica, temos um maior senso de controle e a certeza de que as coisas que gostamos e queremos estarão lá porque escolhemos e não porque alguém, uma empresa, um aplicativo ou uma ferramenta disse que é relevante.
Talvez, para escapar disso, você tenha que superar por excelência da verdade, que é o seu esforço para se adaptar a um pensamento maior ou melhor do que o seu, e você deve, portanto, assumir a responsabilidade como todo indivíduo livre, de ver o problema com honestidade e pensar em soluções corajosas. O famoso “faça sempre o seu melhor e cresça”. Porquê se você é um sonhador, você também é um lutador! Tenha em mente uma coisa: se você não desistir, você melhorará a cada dia. Quem sonha, quem acredita e luta sabe fazer e faz acontecer! E mesmo com medo segue em frente, mesmo quando o medo o atinge, somos humanos não é mesmo? Lembre-se apenas de uma coisa: se você colocar muitas expectativas nas coisas e elas não fluirem, você acabará tomando as decisões erradas apenas para poder atender a essas expectativas! Cuidado com essa atitude errada!

“O segredo da mudança é concentrar toda a sua energia, não em lutar contra o velho, mas em construir o novo.” – Sócrates


Ser franco é ser consistente consigo mesmo. O sujeito justo é aquele que vive e se apresenta socialmente sem cortes, sem máscaras que escondem porções inconvenientes de sua personalidade. Nu e cru.
E por que isto é importante? Este novo ano traz um desafio a mais para todos: buscar uma razão para viver da melhor maneira possível!
Portanto, lembre-se que o Criador deu aos seres humanos inteligência e consciência, ou seja, não podemos entender e encontrar o caminho se estivermos nos escondendo de nós mesmos.
Talvez você, leitor, não saiba o quanto eu compartilho da ideia de que não adianta o ser humano expandir sua intelectualidade se essa aquisição não for acompanhada de crescimento emocional e autoconhecimento. Pois essa maturidade é o que nos faz pessoas inteiras, livres, capazes de se relacionar bem com outras pessoas, de lidar bem com nossas emoções, de administrar nossas vidas para sermos as melhores pessoas que podemos ser. Não apenas tente, mas seja esta pessoa. Paul Tillich chama a nossa capacidade de entrar na vida das pessoas para estimulá-las de “a coragem de Ser”.
Porque em nosso caminho para realizar nossos pequenos sonhos neste grande mundo, nos deparamos com o caminho de outras pessoas todos os dias, e durante estes breves encontros na encruzilhada, podemos ignorar os estranhos, ou podemos escolher torcer uns pelos outros.
Não importa o que aconteça, lembre-se sempre disso.

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Devocionais para não devotos XVIII

“Não importa o quão ousado ou cauteloso você escolha ser, no curso de sua vida você está fadado a entrar em contato físico direto com o que é conhecido como o Mal.” – Joseph Brodsky.

Nosso mundo seria melhor se tivesse mais Zoé (em grego  ζωὴν, João 1:4). Deixo esclarecido que faço aqui um comentário pessoal sobre um dilema moral, fato x valor, colocado por um hipotético sujeito e o processo pelo qual ele racionaliza sua justificativa para não seguir sua voz pessoal interior, vulgarmente chamada de consciência. Essa pessoa que deseja desesperadamente trocar sua etiqueta, sua pele e se firmar na pureza da verdade, em vez de se encolher em um silêncio civilizado diante da injustiça, teoriza as consequências de tal ação apesar de saber que isso não vai mudar o fato de sua declaração perturbar o mundo que, até este ponto, vivia confortavelmente em seu próprio auto-engano superficial. Como sua visão é tão diferente de todas as outras, ele sabe que isso perturbará a tranquilidade das pessoas ao seu redor. Em retaliação defensiva, em vez de reexaminar, reformar e admitir o erro de seus métodos, a sociedade voltará suas costas com desdém a sua declaração e proclamará a verdade que ele expôs como sendo apenas a loucura de um brincalhão. Ele ao ver que não será levado a sério, chora de frustração por ser o único que teve essa visão da verdade e da realidade. Ele se sente sozinho e pequeno no cosmos. Com isso, ele sabe que o mundo terá grande prazer em sua aparência externa de fraqueza e derrota, e em sua arrogância, ele sabe que eles se unirão em uma esmagadora declamação e o insultarão impiedosamente aonde quer que ele vá, todos os dias de sua vida. Ele ergue os olhos, buscando a aprovação celestial e a resolução do problema. Ele tenta clarear seus olhos em busca de um sinal do despertar milagroso daqueles ao seu redor. Assim que começa a enxugar os olhos com a fé de que, por causa de sua sinceridade de coração, certamente haverá mudanças, ele cai de seu estado de sonho para a realidade dura. A enormidade de toda a situação se abate sobre ele como um maremoto quando ele vê as ramificações do que começou com sua simples declaração da verdade. Ele está paralisado em pensamentos e não consegue mais entender suas próprias palavras enquanto elas se afogam no redemoinho de confusão entre a emoção humana e a verdade comovente. Ele eventualmente morre como um homem louco porque ele sabe a verdade, mas nunca a buscou com toda a sua intenção devido à sua falta de coragem em suas próprias convicções. Ele se via como totalmente inadequado para desafiar o que ele não aprovava neste mundo, então ele nunca defendeu aquilo em que acreditava. Após sua morte, a civilização se perpetua em sua alegre ignorância, incólume pela voz da verdade que ele guardava dentro de si. Ele se foi, e com ele, a ameaça potencial que ele representava para uma sociedade eufórica de moral fraca. No final, ele vê que realmente estava certo e que a sociedade estava realmente errada. Ele sabe então, tarde demais, que teria feito a diferença se ao menos não tivesse cedido aos próprios medos imaginários ou aos seus pecados. Ele desperdiçou uma vida inteira reprimindo a si mesmo e a verdade que um dia havia imaginado. Ele se tornou seu pior inimigo. Ele havia algemado sua própria alma, não a sociedade que ele tentou responsabilizar por sua falta de ação. No final das contas, ele se tornou a mesma coisa contra a qual uma vez se enfureceu moralmente, um membro silencioso e enganador de uma sociedade pretensiosa. Agora, depois de tudo isso, se ele acabar diante das portas do inferno, o diabo terá todo o direito de reivindicar sua alma. E não adiantará argumentar que os pecados foram terrivelmente escolhidos para representar tudo o que poderia fazê-lo feliz na Terra, pois é nossa obrigação fazer uma seleção melhor daquilo que nos faz feliz.

Uma última coisa: Deus não força você a acreditar Nele, apesar do Diabo trapacear o tempo todo para te convencer que não existe o inferno. E apesar de ainda não estar convicto de que conseguiremos nos comportar menos orientados para a satisfação da própria conveniência, ainda espero que sigamos em nossa jornada enfrentando os problemas e identificando a necessidade de encontrar beleza e sentido nos atos cotidianos da vida, mas desta vez com menos dúvidas. Feliz Natal para você meu querido leitor, que a propósito, deve sempre escolher melhor aquilo que te faz feliz.

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Uma espiritualidade não religiosa.

Sem pretender efetuar uma análise exaustiva nem tomar em consideração todos os aspetos da realidade que vivemos, proponho apenas manter-nos atentos a algumas tendências do mundo atual que dificultam o desenvolvimento da nossa espiritualidade.

Os escritos bíblicos reforçam a necessidade e destacam que a unidade é um elemento basal na Igreja Cristã. A Igreja é a reunião deste povo que foi chamado para a comunhão, para a unidade. Seja na celebração, no relacionamento, na devoção, na missão ou no comungar da fé. A Igreja de Cristo foi reunida por Ele, para louvor e glória Dele, que serve e está ligada somente Nele. Observando as características de cada povo, de cada país em cada continente, é consenso que os latinos são mais abertos ao congregar, ao reunir-se. Churrascos, aniversários, festas, muitas vezes sem motivos aparentes, fazem parte do cotidiano de um povo que gosta de estar junto, gosta de sentir o calor do próximo. Com o povo brasileiro não é diferente, há quem diga que somos o povo mais acolhedor do mundo. O Brasil é a nação onde todos são bem recebidos, bem tratados. Aqui, mesmo as reuniões mais formais, terminam com uma boa conversa sobre futebol, uma troca de receitas, uma dica de viagem ou uma boa piada que faz todos em volta rirem como se fossem velhos amigos. Gostamos do calor das relações, da conversa olho no olho, de um aperto de mão e um grande e forte abraço na chegada ou na despedida. Por isso, tem sido tão difícil viver este momento que nos impõe o distanciamento, como forma de demonstrar amor, respeito e carinho. O texto de Efésios capítulo 4, versículos 4 ao 6 é uma aclamação da fé cristã:


há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos”. 

Nela, há ecos da profissão de fé no único Deus de Israel ( Deuteronômio cap. 6.4-5 e ver Marcos cap. 12.29-30). Enumeram-se também, sete elementos da fé e da vida cristã, e se ressalta o caráter único de cada um deles. O centro de tudo é um Espírito (Santo), um Senhor (Jesus Cristo) e um só Deus e Pai. É cirúrgico em nos ensinar que a comunhão é algo divino, sagrado, é um dom de Deus, que fortalece os laços de amor, mesmo quando não estamos próximos; por isso, é possível, estarmos em comunhão mesmo afastados.

Teologicamente e filosoficamente não podemos re-significar uma cosmovisão, seja ela de pouca ou grande abrangência, sem descaracterizá-la, o que já não ocorre com o senso religioso por ser uma característica da individualidade do ser humano. A atitude que uma pessoa assume diante dos valores espirituais – Deus, vida eterna, a alma humana, o pecado, as causas do sofrimento – considerando suas convicções, práticas e comportamentos, chamamos de espiritualidade. E todos os seres humanos podem, em algum grau, serem espiritualizados; estou dizendo com isso que todos possuem a capacidade de fazer uma conexão com a sua essência ou com o transcendente para obter as respostas desejadas. Essa liberdade frente aos discursos religiosos pode ser entendida da seguinte maneira, segundo Villasenor (2011, p. 5): “o indivíduo sente-se livre para relativizar os discursos das diversas religiões em oferta, passando a bricolar vários preceitos religiosos”. Não se trata, contudo, de uma opção por produtos como dogmas ou preceitos, muito menos se trata de uma busca por referências norteadoras de um sentido último e definitivo. Trata-se de pequenos bens e serviços que atendem a satisfações relativas ao bem-estar individual.

Sobre esse enfraquecimento do sentido estruturante que pode já ter representado a dimensão religiosa em algum momento de nossa história ocidental, alerta Gianni Vattimo: “Não estou certamente frente a um patrimônio de doutrinas e de normas, claramente definidas, que resolveriam todas as minhas dúvidas e me indicariam claramente o que fazer” (VATTIMO, 1996, p. 70-1). O contexto da relativização dos discursos e do patrimônio doutrinário revela que a situação do ser humano em nossa civilização ocidentalizada vive uma significativa crise relativa à assimilação e consentimento face aos fundamentos da cultura hegemônica. Isso faz com que a centralidade de instauração de sentido migre, da religião e de seu staff, para os sujeitos. Daí se origina também a relevância do ecumenismo. Tal circunstância constituiu fenômeno único no itinerário pessoal de vida desse homem religioso, pois é por meio dele  que podem “perceber como todas as religiões em seus cumes místicos falam a mesma linguagem em todos os espaços e todos os tempos: a linguagem da ligação com a totalidade.”*

Ainda afirma SANCHIS (1997, p. 35), “o campo religioso é hoje, cada vez menos, o campo das religiões, pois o homem religioso, na sua ânsia de compor um universo-para-si, […] tende a não se sujeitar às definições que as instituições lhe propõem”. São os sujeitos os verdadeiros atores e mediadores das transações no mercado de bens e serviços religiosos. Esse controle já esteve, no passado, majoritariamente, com os agentes religiosos vinculados à oficialidade de suas agremiações. Além disso, em relação ao que ainda pretensamente se poderia continuar chamando religião, essa cultura celebra o local frente ao universal, os pequenos relatos frente aos grandes relatos, a excitação dos afetos frente às doutrinas, o amortecimento anímico frente à reflexão, paz e tranquilidade face à consciência e compromisso.

Quando se procura refletir no horizonte da cultura contemporânea o senso religioso, tenciona-se pensar este último na perspectiva de uma cultura decorrente da crise dos modelos abrangentes, falência dos grandes relatos articuladores de sentido, sejam religiosos, políticos ou culturais. Uma cultura marcada pela valorização do individual, do efêmero, também celebrada como cultura da fragmentação em que os sentidos postos têm valor enquanto sejam reconhecidos como instantâneos, móveis e passageiros. O valor está na relatividade e se a verdade já não se encontra estabelecida, a verdade é fruto do diálogo e não da imposição de interpretações que se julgam mais perto do ‘natural’”. Neste contexto, a cultura contemporânea está aqui pensada como o tempo de um particular enfrentamento do problema da identidade face à celebração da diferença, reconhecimento do valor da pluralidade, atomização e, politicamente falando, da laicidade. O que atualmente acaba criando a possibilidade de um indivíduo ter fé e espiritualidade e não participar de nenhuma religião. Esta diferenciação acontece quando preferimos projetar um deus a partir de nossas opiniões, nossas verdades e nossos conceitos mal elaborados.

Como explica Tomás de Aquino, fé é um conhecimento iluminado, embora possa crer em algo que não seja religioso. Entretanto, se um processo religioso for bem vivido pelo indivíduo acabará despertando sua espiritualidade, e será este conjunto de crenças que sustentarão e manterão suas escolhas voltadas para o que é bom e verdadeiro existencialmente. Devo lembrar que dentro do existencialismo a vida é um absurdo, até mais absurdo que a morte porque encontrar um sentido para viver é a maior dificuldade da existência humana. E o ceticismo é quase uma norma. Apesar das pessoas buscarem deixar um legado através de uma profissão, da arte, da literatura e do esporte, viver não é a respeito do que deixamos para os outros, e sim o que fazemos por nós mesmos. Ou seja, ter um sentido na vida é, antes de tudo, ser fiel a você mesmo e buscar aquilo que pode te fazer feliz. Não podemos esquecer que a razão, a filosofia, a natureza, a proximidade da morte, todas estas coisas podem iluminar, despertar o interesse do indivíduo para uma realidade transcendente e a possibilidade da vida se esgotar em si mesma; e muitas vezes ao buscar uma maneira de eliminar a angústia desses acontecimentos o indivíduo encontra uma saída na religião.

Viktor Frankl**, sobrevivente do Holocausto e psiquiatra, diz que o indivíduo precisa encontrar sentido no sofrimento (O ensino cristão por exemplo, é claro ao dizer que viver é ser afligido). E se não pode mudar o mundo, mude a si mesmo. Falta-nos a clareza do sentido potencial do que podemos realizar em nossa existência e aqui está o nó da questão! Essa incapacidade de conferir um sentido à vida leva as pessoas a enredar-se nos labirintos de neuroses e de outros fantasmas como a depressão e as drogas. É preciso pensar em como mudar crenças pessoais, buscar uma maneira nova de re-significar os sentidos e a própria existência. Pois morrer é fácil. Encarar a vida, e todo o absurdo que a cerca, é difícil.

Considerando as várias crenças religiosas existentes hoje, é interessante constatar que o grau de observância dos fiéis que a elas aderem é muito variado. Enquanto alguns aderentes são extremamente zelosos em obedecer aos preceitos de sua fé, outros não têm o mesmo tipo de empenho e de compromisso. Pelo contrário, sendo a religião um bem que assume a forma de produção coletiva em muitas situações, existe espaço para o surgimento do problema do carona, comportamento este em que indivíduos procuram apenas obter os benefícios do consumo de bens e dos serviços religiosos sem incorrer em custos. Também salta aos olhos o fato de mesmo tendo a possibilidade e a liberdade de praticar determinadas ações que, em princípio, não seriam consideradas condenáveis sob uma ética laica, muitos indivíduos optam por não as praticar em decorrência da observância da ética religiosa que adotaram.

Observando o comportamento humano nos deparamos com muitas outras situações, de forma rotineira, onde as pessoas que professam alguma religião formam suas preferências e fazem suas escolhas em um determinado horizonte intertemporal com base em suas crenças religiosas. Por outro lado, preferências moldadas em crenças religiosas também condicionam os seus aderentes a evitar o consumo, de modo temporário ou definitivo, de determinados tipos de bens e de serviços, como bebidas alcoólicas, fumo e literatura obscena. Ou de determinados tipos de alimentos. E como tem implicações de ordem econômica, no que se refere à influência das religiões na formação de crenças e estruturação das preferências individuais, isto acaba afetando a forma como são escolhidas também.

Talvez esse adjetivo ‘espiritual’ faça você pensar em coisas bem distantes da realidade atual, o céu e a vida eterna que ainda virão. E recebe o nome ‘espiritual’ por envolver um aprendizado específico: sermos guiados pelo Espírito de Deus e discernirmos sua voz. É um processo que se desenvolve ao longo do tempo e ao qual precisamos nos dedicar todos os dias. Paulo diz em Gálatas 5:16–17, “deixem que o Espírito guie sua vida. Assim, não satisfarão os anseios de sua natureza humana. A natureza humana deseja fazer exatamente o oposto do que o Espírito quer, e o Espírito nos impele na direção contrária àquela desejada pela natureza humana. Essas duas forças se confrontam o tempo todo, de modo que vocês não têm liberdade de pôr em prática o que intentam fazer.

Esse processo acontece agora, em meio à nossa vida diária, cheia de aspectos bem concretos relacionados ao trabalho, relacionamentos, pessoas, cuidados com a casa, o corpo, a comunidade e a igreja. Esse aprendizado se desenvolve no momento presente em nossa vida ordinária, enquanto Cristo está sendo formado em nós (Gálatas 4:19).

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Referências:

SANCHIS, Pierre. As religiões dos brasileiros. Horizonte: Revista de Estudos em Teologia e Ciências da Religião, Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 28-43, 2o sem. 1997.

VATTIMO, Gianni. Creer que se cree. Barcelona: Paidós, 1996.

VATTIMO, Gianni; DERRIDA, Jaques. A religião. O seminário de Capri. São Paulo: Estação Liberdade, 2000.

VATTIMO, Gianni; RORTY, Richard; ZABALA, Santiago (Org.). O futuro da religião: solidariedade, caridade, ironia. Coimbra: Angelus Novus, 2006.

VILLASENOR, Rafael Lopes. Crise institucional: os sem religião e os de religiosidade própria. NURES, São Paulo, n.17, p. 1-13, abr. 2011.

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Devocionais para não devotos XVII

Não sei se esperam que eu vença esta guerra, mas vou lutar o quanto puder… Oro para que chegue logo o dia em que possamos saudar um mundo no qual não devamos matar inimigos que não conseguimos odiar. Para esse fim, estou disposto a ter meu corpo destroçado inúmeras vezes. Afinal, todos nós tendemos a querer chegar logo ao “resultado final”, a solução que resolverá o conflito. Apesar de saber que é exatamente a coisa errada em que se concentrar, pelo menos no início.

Achei uma aranha minúscula em cima de um livro. Num impulso de malvadeza, aproximei minha caneca quente da aranha, que se pôs a correr freneticamente. Coloquei a caneca à sua frente, ela mudou de rota. Repeti o ato várias vezes até a aranha se imobilizar. Deixei-a sossegada por um tempo. Num novo impulso, aproximei a caneca quente por cima e ela voltou a correr. Continuamos assim por uns dois minutos. Ela então cansou, encolheu as pernas e tornou-se imóvel mesmo sem ter sido tocada pelo calor da caneca. É possível que, para essa aranha, o tamanho do livro seja o do Rio de Janeiro, e cinco minutos sejam cinco ou dez anos. Durante esse período, e nesse espaço, onde quer que ela fosse, havia calor. E quando ela parou, o calor veio de cima… Se isso acontecesse a um ser humano, ele enlouqueceria? Talvez. Uma frase de Jean-Christophe [obra que valeu o Nobel de Literatura ao romancista francês Romain Rolland] sobre isto:

“A vida consiste em uma batalha contínua e sem trégua. Se você quer se tornar um ser humano honrado, precisa lutar contra inimigos invisíveis, desastres naturais, desejos avassaladores, pensamentos sombrios; tudo o que engana a pessoa, a diminui, a destrói.”

Ajuda saber quais são as regras antes de se preparar para quebrá-las? Sim, porquê ao saber muitas vezes descobre-se que não é necessário tal ação.

Através da alegoria da aranha vejo o retrato cru e doloroso das pessoas nestes ‘novos’ tempos: sem entender o que ocorre, eles correm sem rumo, em busca de uma saída para a situação impossível causada pela angústia e ansiedade desses dias tão malucos. Seu entendimento é que não se deve preocupar com as ações e seus valores no passado, tendo em vista que nada se pode fazer a respeito do que já passou, mas que se deve, antes, buscar olhar para frente, para o futuro, tomando como motivação a escolha de ações que maximizem suas boas consequências e que reduzam ao máximo suas más consequências. A maioria deles gostaria de fazer alguma diferença no mundo. Não nego que parte desse desejo deriva da sua vontade de ter a existência reconhecida. Mas sobretudo, ela deriva do vazio que sentem e da sua ira com os chamados líderes, que são incapazes de reconhecer problemas que até eu consigo identificar. Para isso desejo me tornar um ser humano capaz, mesmo que a grande custo, capaz de identificar objetivamente a causa do problema e transmitir esse conhecimento à geração seguinte.

A aranha não entende de onde vem aquela coisa quente e não sabe como se livrar. Seres humanos também se perdem às vezes…

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“Necessário, somente o necessário”

Nos últimos dias confinado, lembrei de uma velha cançãozinha sob a forma de uma lição básica (ensinada pelo urso Balu, companheiro inseparável de Mogli) que é uma reflexão para os tempos atuais: “Necessário, somente o necessário, o extraordinário é demais”. Enquanto somos afortunados e podemos enfrentar um período de quarentena visando o isolamento social (necessário?), é possível fazer um paralelo com os ursos em seus períodos de hibernação para aprender a suportar tamanha responsabilidade? Os fatalistas ensinam que há uma força cega e impessoal sobre a qual ninguém tem controle – nem mesmo Deus – e que os eventos são arrastados por este poder cego e sem propósito. Então, aqueles que acreditam cegamente “o que será será” são tão errados quanto os defensores do acaso? Não é verdade que os eventos são certos, mas só por causa do Deus soberano que cumpre os Seus próprios decretos? Como tem acontecido e sido visto na maior parte dos casos, a própria vida ensina que o necessário não é suficiente. A vida exige atos de doação e sacrifícios bem maiores, embora para a maioria das pessoas a parte que pode ser feita é buscar consumir somente o necessário, fazendo aquilo que é razoável, pensando no próximo superficialmente e apenas para ficar com a certeza de que tudo isso vai passar e dias melhores virão.

Porém, os acontecimentos estão mostrando outra coisa: que o tempo está nos convidando ao discernimento das coisas, à humildade de compreender o nosso tamanho ínfimo diante do desconhecido e de esmagar nossos egos. Afinal, será que somos tão necessários como imaginamos? O segredo da vida não é ainda desfrutar a passagem do tempo produzindo e desfrutando o bem?

Ora, quando o tal do “novo normal” vier, sugiro que você escale um monte bastante alto, construa uma igreja, ande nu a cavalo, funde um novo país, viaje pelo mundo explorando cavernas ou viva de forma elegante o seu dia a dia na cidade. Ou salte de paraquedas, percorra o Caminho de Santiago de Compostela, descubra o Reino da Caveira de Cristal do Indiana Jones, ou explore os cafés da sua cidade. Ou ainda: escale os vulcões da Cordilheira dos Andes, viva de forma minimalista no interior, construa a oitava maravilha do mundo ou funde o seu próprio time. Cante em um karaokê em Tóquio, peça o crush em namoro, comece um novo hobby ou faça uma viagem de última hora, aprenda parkour. Transforme o mundo, renovando a sua mente, troque de cidade ou perca-se em um ano sabático.  Afinal, é isso o que todos procuram em algum momento de suas existências não é mesmo?
E agora, se você me der licença, preciso de uma boa caneca de café expresso. Não é assim tão necessário, mas vocês entendem né? Carpe diem!

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SÓ A VERDADE FAZ BEM A SUA SAÚDE.

Segundo Chauí (2008, p. 95) “Nossa ideia de verdade foi construída ao longo dos séculos com base em três concepções diferentes, vindas da língua grega, da latina e da hebraica.”

Na concepção grega, a verdade é alétheia, que significa o não oculto, o não dissimulado e, como tal verdadeiro, é o que se manifesta aos olhos do corpo e do espírito, é a manifestação do que é ou existe tal como é. O falso é pseudos, o escondido, o encoberto, o dissimulado, parece ser, mas não é como parece. De acordo com essa concepção, a verdade estaria na essência, sendo idêntica à realidade e acessível apenas ao pensamento e verdadeiro aos sentidos. Assim, um elemento necessário era a visão inteligível, em outras palavras, o ato de revelar o próprio desvelamento. Então podemos dizer que, a verdade em alétheia seria a busca em distinguir aquilo que temos imprevisão que seja verdadeiro. Sendo assim, a verdade já está evidenciada nas coisas.

Na concepção latina, verdade é veritas , significando exatidão, precisão, rigor do que se refere à linguagem como expressão de fatos acontecidos, a relatos ou enunciados que dizem as coisas, aos fatos tais como foram acontecidos. Se nos colocarmos pelo lado da concepção latina, podemos observar que ela se afirma na capacidade dos seres humanos em descrever com precisão um acontecimento. Essa concepção depende muito da forma que os fatos são narrados. Nesse ponto, a verdade como veritas, se trata de descrever com detalhes o ocorrido no passado. Observam-se diferenças nas duas concepções. Na latina, a precisão dos fatos que são contados é que vai determinar se esse fato é verdadeiro ou falso. Na grega a verdade está nas próprias coisas, diferentemente da latina.

Na concepção hebraica verdade é emunah, que significa confiança. Nessa concepção, Deus e os seres humanos é que são verdadeiros, mas são verdadeiros se cumprem o que prometem, se não traem a confiança. A verdade aqui está relacionada com a esperança de cumprimento do que foi prometido. Note que a fé e a crença movem essa concepção, de tal modo, que temos que acreditar em uma verdade mesmo que as evidências sejam contraditórias.

A verdade então, parece se referir ao que as coisas são, aos fatos e acontecimentos que realmente se deram tais como são relatados, e ao que virá a ser ou o que virá a acontecer porque assim foi prometido.

Se formos seguir este raciocínio, o verdadeiro nome da epidemia de COVID-19 em andamento sugere que, em certo sentido, estamos lidando com um “nada de novo sob o sol contemporâneo”. O nome verdadeiro do coronavírus é SARS 2, que é uma ‘Síndrome Respiratória Aguda Grave 2’, um nome que sinaliza a “segunda vez” dessa identificação, após a epidemia de SARS 1, que se espalhou pelo mundo na primavera de 2003. Na época, ela foi chamada “a primeira doença desconhecida do século XXI”. É claro então, que a epidemia atual não é de forma alguma o surgimento de algo radicalmente novo ou sem precedentes. É a segunda deste tipo neste século e pode ser situada como a primeira descendente. Tanto é assim que a única crítica séria que hoje pode ser dirigida às autoridades em questão de previsão é não ter financiado, após a SARS 1, a pesquisa que teria disponibilizado ao mundo da medicina instrumentos genuínos de ação contra a SARS 2.

O que mostra porque a atual pandemia não é uma situação de crise claramente contraposta a uma situação de normalidade. Desde a década de 1980 o mundo tem vivido em permanente estado de crise. Uma situação duplamente anômala. Por um lado, a ideia de crise permanente é um oximoro, já que, no sentido etimológico, a crise é por natureza excepcional e passageira e constitui a oportunidade para ser superada e dar origem a um melhor estado de coisas. Por outro lado, quando a crise é passageira, ela deve ser explicada pelos fatores que a provocam.

Paralelamente ao aparecimento do coronavírus, uma avalanche de informações sobre a infecção começa a acontecer. Seja pelas redes sociais ou por canais oficiais de mídia, muito é dito acerca do problema. Na mesma medida, observa-se uma invasão de notícias e dados irresponsáveis, sem compromisso com a realidade.

Este é um fenômeno em curso no mundo todo, o qual toma opinião por conhecimento. E por consequência, esvazia o espaço da pesquisa científica e deturpa o lugar da moral. Ou seja, enquanto a construção de conhecimento necessita de análise exaustiva, racional, contextual, complexa de um determinado assunto, a opinião é apenas um julgamento movido por visões limitadas e moduladas por sentimentos internos. Um exemplo: Você falando sobre cloroquina no comentário de uma notícia no Facebook é opinião. Cientistas das áreas de saúde estudando anos em laboratórios, no mestrado, no doutorado, publicando artigos, experienciando vivências é a tentativa de produção de conhecimento.

Sabemos que em uma crise nossas evidências nunca são perfeitas e sempre precisaremos tomar decisões antes que nossa compreensão das coisas esteja completa, especialmente quando as pessoas morrem aos milhares todos os dias, de um vírus que ninguém jamais viu antes. Mas uma ideia grosseira, se não uma ideologia, tomou conta do pânico dessa crise: que qualquer dado, por menos que seja ruim, é melhor que nenhum. “Não é perfeito”, admitiu um autor da pesquisa de anticorpos da Califórnia, John Ioannidis, da Universidade de Stanford, “mas é o melhor que a ciência pode fazer”. Isso é perigoso e errado. Como o próprio Ioannidis mostrou anteriormente, pode ser arriscado diminuir a faísca da ciência em tempos normais. No momento, pode ser ainda pior. É vital reunirmos o conhecimento o mais rápido possível, diante da pandemia, mas sacrificar os padrões científicos não fará nada para acelerar esse processo. Se alguma coisa vai acontecer é um abrandamento.

O que, exatamente, ganhamos com esse abandono louco da prática científica cuidadosa? É muito cedo para dizer com certeza, mas é bem possível que alguns resultados dos estudos descuidados acabem no final, assim como alguns estudos de qualidade superior, estando errados. Enquanto isso, as desvantagens são óbvias. À medida que o trabalho descuidado prolifera, ele gera diários não confiáveis, servidores de pré-impressão e fábricas de boatos da Internet, dificultando a classificação de fatos por pensamentos ilusórios. À margem, isso pode levar as pessoas a fazerem tratamentos não comprovados e potencialmente perigosos, como o homem do Arizona que morreu em março depois de tentar se automedicar com cloroquina. Mas os maiores danos são aqueles que se espalham pela corrente principal do nosso sistema de saúde e pesquisa. Estudos incompletos não produzem apenas resultados enganosos, eles também roubam atenção e recursos preciosos de projetos que têm uma chance real de produzir informações verídicas e aplicáveis.

O jornal americano The Economist mostrava no início deste ano que as epidemias tendem a ser menos letais em países democráticos devido à livre circulação de informação. Mas como as democracias estão cada vez mais vulneráveis às fake news, teremos de imaginar soluções democráticas assentes na democracia participativa ao nível dos bairros e das comunidades e na educação cívica orientada para a solidariedade e cooperação, já que as mentiras são uma forma poderosa de “magia” que podem induzir grandes grupos de pessoas a cometer erros terríveis, além de fazer com que fiquem cegos para o óbvio: Mentiras fazem as pessoas se machucarem enquanto pensam que estão se ajudando.

O modo como foi inicialmente construída a narrativa da pandemia nos meios de comunicações ocidentais tornou evidente a vontade de demonizar a China. As más condições higiênicas nos mercados chineses e os estranhos hábitos alimentares dos chineses (primitivismo insinuado) estariam na origem do mal. Subliminarmente, o público mundial era alertado para o perigo de a China, hoje a segunda economia do mundo, vir a dominar o mundo. Se a China era incapaz de prevenir tamanho dano para a saúde mundial e, além disso, incapaz de o superar eficazmente, como confiar na tecnologia do futuro proposta pela China? Mas terá o vírus nascido na China? A verdade é que, segundo a organização Mundial de Saúde, a origem do vírus ainda não está determinada. É, por isso, irresponsável que os meios oficiais do EUA falem do “vírus estrangeiro” ou mesmo do “coronavírus chinês”, tanto mais que só em países com bons sistemas públicos de saúde (os EUA não são um deles) é possível fazer testes gratuitos e determinar com exatidão os tipos de influenza ocorridos nos últimos meses.

A aparente veracidade das soluções sociais mais rígidas cria nas classes que tiram mais proveito delas um estranho sentimento de segurança. É certo que sobra sempre alguma insegurança, mas há meios e recursos para os minimizar, sejam eles os cuidados médicos, as apólices de seguro, os serviços de empresas de segurança, a terapia psicológica, as academias de ginástica. Este sentimento de segurança combina-se com o de arrogância e até de condenação para com todos aqueles que se sentem vitimizados pelas mesmas soluções sociais. O atual surto viral interrompe este senso comum e evapora a segurança de um dia para o outro, criando um ambiente seguro para a proliferação das opiniões embasadas em fake news.

Mas como você pode se proteger da desinformação? Em primeiro lugar, reflita antes de compartilhar: faça uma busca rápida para ver se a notícia é realmente verdadeira. Em segundo, foque nos fatos: cheque a fonte da informação e veja se ela veio de um órgão oficial, como a OMS ou do Ministério da Saúde, já que desde o início da pandemia de coronavírus, uma das preocupações da Organização Mundial da Saúde (OMS) é justamente com as informações falsas e como o cenário pode interferir na saúde mental. E em terceiro, seja cauteloso com o conteúdo: muitos vídeos e imagens são tirados de contextos. Lembre-se: a desinformação pode se espalhar tão rápido quanto o vírus. Mas fazer as perguntas certas pode impedir tanto a “infodemia” como a propagação de fake news.

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E aí, como estão as coisas?

É comum dizer que “o amor é a linguagem universal”, uma forma de comunicação compreendida por todos. Isto é verdade: a maioria dos humanos são capazes de uma conexão emocional significativa e um profundo afeto em relação aos outros.

“O fato é que toda relação humana é, a um certo grau, uma relação de poder. Nós evoluímos em um mundo de relações estratégicas perpétuas.”

Estas palavras de Foucault demonstram tal como é a realidade dos relacionamentos hoje em dia.  É por isto que o mais importante deveria ser a nossa capacidade de criar conexões e olhar para o outro de maneira empática, pois isto possibilita que a gente se construa de um jeito mais bonito. Amar é isso também. Parar de privilegiar as relações líquidas atuais, e ao mesmo tempo, parar de formatar (deformar) o nosso ego sem uma verdadeira referência do “outro”; porque estamos perdendo a noção de que o mundo é maior do que aquilo que representa os nossos filtros-bolhas e nos apequenando em egocentrismo.

Pior ainda. Criamos um fetiche que nos faz pensar o quanto nosso clique, like ou unfollow é importante. O indivíduo que possui esta deformação se apresenta com uma autoimagem malformada, possivelmente por causa das experiências de reconhecimento, interpretação e projeção pessoal equivocadas, uma vez que, como afirmou Freud,

“o ego é antes de tudo a projeção de uma superfície (forma) corporal”.

E isto talvez não seja apenas uma questão “psicológica”: para Lacan, a experiência da temporalidade humana (passado, presente e memória), a persistência da identidade pessoal através de meses e anos; a própria sensação vivida e existencial do tempo, são também efeitos de linguagem, pois os ícones e pictogramas somados a uma quantidade de imagens e vídeos diminuem o “exercício físico e real” das relações; sem conversar, os relacionamentos ficam comprometidos, ficamos perdidos e existencialmente confusos, cada vez menos dispostos a demonstrar nossas vulnerabilidades. 

A maioria de nós nunca precisou pensar muito para se definir, mas agora a questão tem sido forçada: identifique-se ou peça a alguém que o rotule, projete sua história ou seja projetado. Parece que você precisa ter uma etiqueta e estar disponível em uma prateleira para ser consumido ou descartado. O que acaba criando muitos dos comportamentos e sofrimentos que supomos serem uma parte “normal” do amor (da inveja à infidelidade e ao coração partido) mas que podem ser evitados. Porque simplesmente eles não são uma parte inata do amor maduro e saudável.

Para a maioria dos cristãos, pelo menos os leitores assíduos dos evangelhos, amar ao próximo, seja ele quem for, é servi-lo em amor. Contudo, amamos o próximo ou amamos como nos sentimos quando estamos amando alguém? Na prática cristã diária somos altruístas ou egoístas? Já podemos sofrer o dano para que tudo vá bem ao outro primeiro, abrindo mão daquilo que é nosso? É. Estamos impregnados com as ideias e comportamentos laicos.

Quando duas pessoas se encontram por um certo período de tempo e ficam muito próximas, os sentidos de um registram as referências do outro em sua história. Algo importante com tanta coisa rolando por aí é poder trazer à tona a verdade que se sente, porque falar nem sempre é fácil, decodificar o que o corpo nos diz já é um grande desafio, principalmente quando se está longe, mas tudo fica mais fácil quando nos dão abertura.

Então, focar nossa existência no virtual permite-nos apenas viver em um presente perpétuo, não existindo um relacionamento frasal com o qual os diversos momentos do nosso passado apresentam uma conexão, e dessa maneira não se vislumbra nenhum futuro no horizonte. É por causa dessa linguagem digital (e as redes sociais em particular) que nos “viciamos” tão facilmente na experiência virtual, uma experiência da materialidade isolada, e às vezes até desconectada e descontínua do real.

É nas redes sociais principalmente, que temos a sensação que o outro está lá nos oferecendo meios para reduzir o tamanho do mundo, criar muros de invisibilidade, agregar massas de identidades semelhantes, projetar inimigos de ocasião, criar idealizações massivas sobre como são as vidas alheias.

“O oposto do amor é a indiferença, e o oposto da felicidade é o tédio. ” (Tim Ferriss)

Sabemos que a vida da maioria das pessoas não é necessariamente ruim, mas é terrivelmente chata. É por isso que eles precisam de entretenimento constante da televisão e/ou das redes sociais. Isto acaba produzindo um sentimento de quem vive no mundo virtual está vivendo mais do que no real e analógico, e com nitidez maior, uma experiência muito mais intensa de um definido instante do mundo, o que nos obriga a focar e a selecionar nossas percepções.

Assim descobrimos estarmos em uma sociedade que cresceu sob o grande projeto do muro protetor, que aprendeu que diante da diversidade e do conflito é possível, antes de tudo, esquivar-se e modificar a realidade em vez de modificar-se a si mesmo e aos seus pontos de vista, e sobretudo: “As pessoas querem ser desafiadas, não transformadas”.

Portanto, devemos nos concentrar em ser a pessoa mais amável possível para nosso próximo. Se ele retorna o favor ou não, cabe a ele. Afinal, só o amor real constrói, isso porque se importa de fato pelo outro e busca melhorar para auxiliar e dar suporte; O mais irônico é que o amor é a única construção do mundo que não tem fim, mas que também ninguém espera que acabe. É uma obra infinita que a gente aproveita todos os dias. E as vezes começa por uma simples perguntinha: E aí, como estão as coisas?

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Devocionais para não devotos XVI

Os defensores do senso estético acima de tudo sempre dizem que o mundo é um palco. Mas obviamente, aquilo que deveríamos encenar não foi ensinado e todo mundo está improvisando suas falas. Talvez seja por isso que é tão difícil dizer se estamos em uma tragédia ou em uma farsa. E penso se não seria esse entendimento a causa de tantas pessoas pensarem que precisamos de mais efeitos especiais, bebidas, números de música e dança para tornar um pouco mais aceitável esta vida? Acredito que a resposta dada a esta pergunta seja importante para a época atual, já que estamos vivendo um momento de intensa busca por conforto e pacificação interior (espiritual, psicológica), seja através de ‘lives’, discursos ideológicos ou de um comportamento adequado a tão “necessária” manutenção e permanência do antigo modus vivendi. Me pergunto se todo mundo já leu ou ouviu Nietzsche:


“Temos a arte para não morrer ou enlouquecer perante a verdade. Somente a arte pode transfigurar a desordem do mundo em beleza e fazer aceitável tudo aquilo que há de problemático e terrível na vida”.


O fato é que estamos vivendo uma época histórica, onde percebemos facilmente a constante troca de informações, tecnologias e DNA entre grupos sociais e étnicos em velocidade aumentada. Sendo a cultura, historicamente, uma mediadora nesta constante troca de “produtos” (ideias, organização social e conceitual, música, arte, religião) entre as populações humanas, nestes dias age como uma ‘membrana plasmática’ separando as ideologias ou permitindo-as. Isto tem produzido nas pessoas um desejo de querer torná-las reais, de concretizar as teorias, por isso parece tão natural aproveitarem-se do ‘roçar de ideias’ afins ou contrárias para começarem a produzir opiniões conciliatórias na forma de pensamentos híbridos. Claro que é necessário que esses pensamentos sejam entregues junto a uma opinião fundamentada que vá contra os nossos preconceitos, porque para o exercício do que chamamos de pensamento é preciso o confronto e a provocação. E sabemos que pensamentos tornam-se ações, ações tornam-se hábitos, hábitos tornam-se a base do nosso caráter, que formado diferente dessa maneira, corre o risco da despersonalização e de cair no absurdo, cuja argumentação se dará, na maioria das vezes de forma radical e sem sentido para tentar mostrar as provas de uma evidência sobre fatos pouco evidentes, mas que resistem à refutações. E daí começam os embates.

Nos últimos 300 anos, o mundo ocidental considerou amplamente “religião” (a própria palavra mudou seu significado para acomodar esse novo ponto de vista) como um assunto particular: “o que alguém faz com sua solidão”. A fé cristã como um todo foi então reduzida, na mente do público, a um movimento “privado” no sentido de que – muitos dizem – não deveria ter lugar na vida pública. Laico eles dizem. Quando isso acontece, o sistema gerador de ideias ou a própria ideologia podem entrar em crise muitas vezes, e a crença é quem poderá, muitas vezes também, permitir que os lados de cada sistema manifestem um tanto da sua lógica no intuito de forçar os indivíduos a representarem seus desejos e os conformarem com a realidade. Seria como ‘pôr as cartas na mesa’ e encarar o mundo como é de fato e não como eu penso que é. O filósofo francês René Descartes estabeleceu um novo modelo de pensamento no século XVII, ao formular em latim a seguinte proposição: “Cogito, ergo sum”, (Penso, logo existo). Era uma forma de demonstrar que aquele que existe raciocina e, por conseguinte, põe em xeque o mundo que o cerca. A dúvida científica substituía a certeza religiosa.

Abro um pequeno parêntesis aos cristãos: Quando se deixa de acreditar em Deus, passa-se a acreditar em qualquer outra coisa, segundo Chesterton, na ciência, nas ideologias, no prazer, no mercado e, principalmente, em si mesmo. Nesse caso temos a idolatria como um deslocamento: transferir para instâncias não divinas a adoração que se deve somente a Deus. Todo mundo diz: “a vida continua”, e sabemos que continua. Mas como você continua com a vida depois que aquilo que faz valer a pena viver para você se foi? Está perdido para sempre? Quem nunca teve que começar do zero? Reconstruir uma relação, uma situação da vida, mudar sua forma de pensar?

Olhemos para essa pandemia, cujas causas são pouco compreendidas, mas os modos de ação e as consequências são ainda mais mal colocadas e acabam deixando todo o mundo em uma situação estranha, entre vergonha, impotência e raiva. E contudo, ainda precisamos trazer alguns aprendizados básicos para nossa vida diária, do contrário não conseguiremos levantar os alicerces invisíveis que nos sustentam, consolar os que mais sofreram, ajudar os mais atingidos pela crise econômica a se reerguer, rever os valores que realmente podem fazer diferença na vida de toda a sociedade. Pois é isto que somos obrigados como espécie, a única racional, a fazer: tomar a decadência e a desordem deste mundo para organizá-lo de maneira que possamos entendê-lo, reescrevendo sua história.

Mas para isto acontecer a civilidade precisa ser posta em prática; para que tenhamos uma sociedade equilibrada é preciso conviver com os dois lados, suas crenças e censuras. Para no fim, o melhor de cada lado poder preponderar sobre tudo. Pode ser que nem todos sejam atingidos de forma direta, que nem todos concordem com o que escrevi, mas uma coisa é certa: de alguma forma, mesmo sem perceber, todos vamos mudar algo em nossas vidas a partir de agora. Afinal, quanto podemos ganhar gastando tempo olhando apenas o que estamos fazendo e não o que o outro disse ou fez, afim de que as nossas ações sejam justas, santas e inteiramente boas?


“Depois de um tempo você aprende que o sol queima se ficar exposto por muito tempo. E aprende que não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam… E aceita que não importa quão boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo de vez em quando e você precisa perdoá-la por isso. Aprende que falar pode aliviar dores emocionais.” (William Shakespeare).

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Devocionais para não devotos XV.

O niilismo se espalhou como uma sombra pelo corpo da humanidade. Tomou de assalto a humanidade e a leva a decadência. Diante da questão, “Quais as origens dessa doença?”, os niilistas respondem: Excesso de cristianismo e a crença na razão!  Para eles a vida está sempre rebaixada, sempre sendo pensada sob condições, fazendo concessões, em função de uma ideia transcendente, de um universal. Ora moral divina, ora moral humana, sempre os mesmos erros! Por isso é urgente navegar para além de bem e mal!
Hoje, deixei de lado todas as minhas preocupações e arranjei para mim um período claro de tempo livre. Estou aqui completamente sozinho e, por fim, me dedicarei, sinceramente e sem retenções, a demolir minhas opiniões. Como eu pensava antigamente, tem muita gente que não acha a vida empolgante porque não encontrou uma estratégia que é suficientemente arriscada, que é suficientemente corajosa para desafiar os limites das suas energias. Todo mundo almeja a aventura. Todo mundo deseja ser significante. Todo mundo deseja sentir que a sua vida é importante para alguém. Você conhece esta sensação? Sim, todos nós já fomos crianças um dia e gostaríamos de, pelo menos uma última vez, voltar a olhar e perceber o mundo com a mente fértil e intocada de uma infância cheia de coisas a descobrir e primeiras vezes para tudo!

Entretanto, ainda temos tempo para mudar a nossa perspectiva, perceber o quanto o nosso olhar é para a nossa saúde emocional. E não são os olhos do rosto, relacionados ao sentido da visão, mas os “olhos do coração”, ou seja, o olhar sobre aquilo que te atrai, que te anima e dá sentido à vida. Já percebeu querido leitor, que o essencial além de ser invisível também é gratuito?

Já que as heresias são quase tão perenes quanto a verdade, farei uma confissão: eu vejo que as crônicas de Nárnia mostram liricamente, o quê uma criança (o eu em nós) sente diante de Aslam é o que deveríamos sentir diante de Cristo: Aslam não é um leão manso (E a maturidade também não é).

O que ainda acho estranho em envelhecer não é que fiquei mais velho. Não é que o jovem eu do passado envelheça sem que eu perceba. O que me pega de surpresa é, antes, como pessoas da mesma geração que eu envelhecemos, como todos os garotos desejados por todas as garotas bonitas e animadas que eu conhecia, e por isso também desejadas, agora têm idade suficiente para ter alguns netos. É um pouco desconcertante, eu diria até triste. Embora nunca me sinta triste pelo fato de ter envelhecido. Penso que, objetivamente, a responsabilidade precede a razão e a consciência e é, efetivamente, um marco. Posso dizer “Velho o suficiente para saber, jovem suficiente pra fazer mesmo assim”. Definitivamente, meia idade é o outono chegando na vida das pessoas.

Recentemente, li o livro All-American Muslim Girl, de Nadine Jolie Courtney. Sou um leitor ávido e adoro romances para jovens adultos como esse. O personagem principal, Allie, faz parte de uma família muçulmana circassiana onde a mãe e o pai não são praticantes. A crescente islamofobia em sua escola e no mundo faz com que Allie comece a abraçar sua religião. Allie é forte e corajosa. Ela é uma personagem engraçada e relacionável que me manteve interessado no livro até o fim. E acabei inspirado, pelo desejo dela, por estar em contato com minha fé.

“E então eu tirei todos os meus fracassos de uma caixa, minha humanidade boba, inconstante, vaidosa, ridícula, e percebi que não; eu não consigo aceitar que sou pó. Eu não sei lidar com a minha pequenez de alma. Eu não consigo passar do primeiro dia da quaresma com sucesso. Em matéria de culpa eu sou excelente, mas arrependimento?” “Arrependimento é a palavra que o mundo quer esquecer. O normal é fazer o que der na cabeça sem se preocupar se é certo ou não. E se algo der errado, não se arrependa, pois fere o orgulho, outro DEFEITO que o mundo tem transformado em virtude em nosso tempo”. Talvez por isso nossas narrativas estejam tão impregnadas de uma atmosfera kafkiana, povoadas de seres atolados em pesadelos, transitando nos abismos e lacunas espirituais onde um turbulento arsenal de angústias precipitam um mergulho do insondável, em dimensões que evidenciam nossa perplexidade. Sobretudo, por não entender-mos a limitante realidade é que inventamos algumas verdades terríveis para superar nossa falta de sentido; para estar confortáveis e tentar entender quando encontramos em nossos dias pessoas que não podem ser caracterizadas, que vivem continuamente em um círculo de ambiguidades, cheias de dúvidas, que dizem: “não quero esperança. Esperança está me matando. Meu sonho é tornar-me um caso perdido”.

Procuremos entender que existem infinitas maneiras de causar impacto e sermos motivados, inclusive quando as economias desaceleram, ou perdemos a segurança dos amigos que vão, a vida inviabiliza nossos melhores planos e até mesmo nossos corpos nos traem, só precisamos nos dedicar a fazer alguma coisa, mesmo aquelas muito simples:

“A doçura dessa água nasceu da longa caminhada sob as estrelas, do canto da polia e do esforço de puxar o balde. Isso me fez sentir bem, me fez feliz, como um presente.” (O Pequeno Príncipe)

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