“Evangelho de Fariseus”

“Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês fecham o reino dos céus diante dos homens! Vocês mesmos não entram nem deixam entrar os que estão prestes a entrar.

Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês percorrem terra e mar para fazer um convertido e, quando conseguem, o tornam duas vezes mais merecedor do inferno do que vocês.”

‭‭(Mateus‬ ‭23‬:‭13‬, ‭15‬ ‭NVI‬‬)

Mês passado, Aymeê Rocha não apenas cantou, transmitiu uma mensagem de reflexão e transformação com sua música “Evangelho de Fariseus”, onde ela abordou questões sociais e desafiou os ouvintes, cristãos ou não, a repensarem suas atitudes e prioridades. Sua música ecoou como um chamado à autenticidade e à verdade espiritual em meio a um mundo marcado pela superficialidade e comportamento amoral (“O reino virou negócio. O dízimo importa mais que os corações”). Caiu como uma bomba em área de civis.
Tornou-se persona non grata em alguns círculos evangélicos por causa disso, pois sua música denuncia o “farisaísmo gospel” atual, e ao ser apresentada publicamente acabou inflamando alguns corações mais conservadores, da ala dos sete mil que permanecem sem compactuar com o sistema atual.
Em contrapartida, também levou a ala progressista da Igreja evangélica brasileira a se posicionar defensivamente, alegando um ataque contra o corpo de Cristo e questionando a mesma por responsabilizar somente a igreja e isentar o governo de tomar providências contra os fatos denunciados.
Ora, a questão é simples: A igreja atual, muitas, não todas, tem esquecido quais são os valores imprescindíveis, aqueles todos baseados nos evangelhos, não valorizados aos seus olhos, que mais visualizam do que contemplam, por estarem presos dentro das tradições que foram condicionados a verem, dessas Igrejas e de si mesmos (“Evangelho de fariseus, que ostentam bens materiais, mas esquecem dos necessitados”).
Além de transigir com as causas políticas e sociais desta época tomando decisões que beneficiam apenas a si, desviando-se do verdadeiro caráter de Cristo, pois apesar de estarem andando pela estrada de Emaús, suponho, ao lado de Jesus, não o vêem, entendem ou buscam.
Entendo que as metáforas utilizadas na música são dificeis e as hipérboles consideradas pesadas, porém o objetivo é o de chamar a atenção para uma igreja que precisa começar admitir suas falhas e voltar ao primeiro amor. Nossas ações comprometem os outros. No entanto, a igreja que deveria salgar, pois é a testemunha de Cristo no mundo, o seu corpo visível que deveria manifestar-se com a verdade concretamente diante da sociedade, está enfermando.

“Fazemos campanhas pra nós mesmos
Eventos pra nós mesmos
Estocamos o maná para nós
Oramos por nós e pelos nossos”

Infelizmente, poucos entenderam que a música da Aymeê é um chamado para uma reflexão profunda sobre os valores que permeiam a sociedade e um alerta para a igreja contemporânea ensimesmada, que existindo antropocentricamente, está colocando a fé de seus discípulos em risco para defendê-la, este “levanta tu que dormes” então, é para não esquecerem que nos ensinamentos de Cristo temos todo o necessário para uma vida cristã honesta, santa e verdadeira (1Co. 13.4-8). Não veremos seres humanos imperfeitos, mesmo cristãos, atingirem o nível de perfeição proposto na Bíblia, ainda assim, devemos nos apropriar dela através da fé viva, um passo de cada vez, avançando sempre para o autor e consumador de nossa fé.

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Devocionais para não devotos XXXI

(“Que não é o que não pode ser que não é”)*

O pensamento na sociedade ocidental é entendido como a nossa rebelião contra a tirania do tempo e uma barreira contra o terror da nossa finitude. Mais ainda, nossos pensamentos viram hábitos, e estes tornam-se nossas escolhas impensadas, aquelas decisões invisíveis que nos cercam todos os dias, escavando para si mesmo um caminho cada vez mais largo e profundo na existência (e se tudo pára de fluir a nossa volta, retomamos o caminho traçado anteriormente por nós mesmo).

“É a inserção do homem com a sua duração de vida limitada que transforma o fluxo contínuo de pura mudança… no tempo tal como o conhecemos”, escreveu Hannah Arendt, na sua brilhante investigação sobre o tempo, o espaço e o nosso ego pensante.[1]

Temos visto a concretização desta declaração em nosso sociedade atual, em que todas as coisas deixaram de ter um padrão, uma forma, algo que estabeleça o certo e o errado, e tem se mostrado um lugar cujas mudanças são tão aceleradas que atualizam, e por vezes desorganizam, a nossa vida em vários âmbitos: social, econômico, profissional e tantos outros. Chamam de tempos, amores e modernidades líquidas.

O problema aqui, segundo a ótica cristã, não é o fazer escolhas ou promover mudanças, fomos capacitados por Deus para isso, mas fazê-las longe da vontade do Criador (Efésios 2.10). Nossas escolhas devem mostrar que fomos criados para realizar as boas obras, mas que fique claro: as obras não justificam, não salvam, porém, o homem que já foi justificado deve praticá-las. Isso aponta a direção em que nossos esforços deveriam estar engajados, pois devemos avaliar as disposições e estados mentais que o Espírito Santo tem produzido em nós visando uma mudança completa, tanto de mente como de alma. Mudanças que não ocorrem somente em situações difíceis, onde podem até se acentuar, somos seres que fluímos, assim como as coisas fluem, a natureza flui, a experiência não cessa. Nesse constante fluir vemos as águas do rio de Heráclito passar e juntamente com elas as nossas ideias, reflexões e pensamentos, como já foi dito:

“Toda a nossa vida não passa de uma massa de hábitos (práticos, emocionais e intelectuais) sistematicamente organizados para a nossa felicidade ou nosso sofrimento, e nos conduz irresistivelmente rumo a nosso destino, qualquer que seja ele.”[2]

No mais, é preciso lembrar: apesar de todos os pesadíssimos pesares do ano que passou, todos os desafios que serão postos à nossa frente neste novo ano, a imanência da vida é absolutamente alheia às ideias demasiadamente humanas e continuará em seus devires. Neste mundo sensível onde não vemos nada assim eterno e imutável, apenas uma pluralidade em constante devir (ou seja, em um fluxo permanente de mudança), o sol continuará sendo o sol. O rio continuará a desaguar em alguma paisagem de abundante natureza em nosso Brasil. O caramelo de rua ainda virá brincar e nos pedir carinho. Entre tantas outras coisas que simplesmente continuarão a ser. Ora, mas quem disse que a verdade pode ser apreendida pelos sentidos? Heráclito já não havia indicado que, por trás da desordem aparente das coisas, há um Logos que tudo ordena?…

Aparentemente hoje não existe mais a figura de quem aprendeu, mas sim de quem está aprendendo. Com isso todos os paradigmas estão sendo quebrados, a tendência atual é de não existir mais um conhecimento para sempre, e sim uma prática de reinvenção e (re) aprendizado constantes (ou querem que seja assim). E eu sei que a ideia de mudar constantemente é difícil, mas não mudar pode ser fatal nos dias de hoje, segundo dizem.

Se vivemos no mundo líquido e sem rumo descrito por Bauman, precisamos muito de orientação e cuidados. Portanto, meu primeiro e único conselho deve ser: antes de querermos tomar o mundo externo e resolver tudo à força, vamos começar pelo íntimo. Começar pelo cuidado com o nosso corpo e mente, com a nossa casa espiritual. Entendendo como as pessoas irão passar pela sua vida, mas nem todos serão protagonistas da sua história e nem sempre você será protagonista da história de outros. Há pessoas que são o caminho, não a chegada! Isso reflete a crença de que a realidade está constantemente mudando, e a estabilidade é uma ilusão. Heráclito via a mudança como a essência fundamental do universo, uma ideia que se tornou fundamental no desenvolvimento do seu conceito filosófico do vir a ser. E acredite, experiências ruins também nos fazem crescer. Estejam preparados!

Como o Leandro Karnal já dizia, você deve aceitar o limite, a imperfeição e o fracasso. Acredite sempre no esforço e na perfectibilidade, na capacidade do ser humano de sempre se aperfeiçoar. Um incentivo e um lembrete de que o fato de estar tentando, importa mesmo quando parecer insignificante. Querer fazer hoje alguma coisa para ultrapassar sua limitação de ontem, importa. Até porque “você é menor do que Deus e maior do que uma folha. ”

“Não vivam como vivem as pessoas deste mundo, mas deixem que Deus as transforme por meio de uma completa mudança da mente de vocês. Assim, vocês conhecerão a vontade de Deus…

É em Cristo que encontramos a concretização de todas essas coisas, indo até as promessas e profecias feitas na Bíblia. Ele é a fonte de toda a felicidade, a chave para uma vida plena, e nele encontra-se o significado de todas as coisas. O salmista diz que Ele é o rio que flui em direção a Deus!

Bom… deixando um pouco a filosofia de lado, a questão é esta: o mundo acontecerá e fluirá independente da minha vontade ou da sua; nós só temos duas escolhas: se conformar e ficar para trás ou renovar o nosso pensamento sobre tudo o que está acontecendo e seguir em frente para o alvo. E aí, qual você escolhe?

[1] https://www.themarginalian.org/2015/12/02/hannah-arendt-the-life-of-the-mind-time-thinking/[1]

[2] William James, Talks to teachers on psichology: And the students on some of life’s ideals.

* Essa letra da Música de Arnaldo Antunes refere-se a ideia de que aquilo que é, que existe não pode não existir ou não ser, pois o que não é não existe, este pensamento foi iniciado por um pensador pré-socrático chamado Parmênides.

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Devocionais para não devotos XXX

O ano mal começou e já estamos no meio dos recomeços ou das novas empreitadas. E encontrar respostas significativas para os nossos problemas nem sempre é muito fácil, não é mesmo? Muitas pessoas têm buscado um manual correto do bem viver, uma receita para dar tudo certo neste ano; acontece que as pessoas, no estado natural em que se encontram são movidas intuitivamente, e acima de tudo, pela cobiça e pelo egoísmo, seguindo muito naturalmente (e muitas vezes inconscientemente) sistemas de valores chamados de humanísticos[1] ou naturalísticos[2].

Como são todos hedonistas por natureza e frequentemente motivados em suas decisões pela busca secreta do prazer (a ética natural dessas pessoas é o hedonismo), instintivamente, tomam decisões e fazem escolhas tendo como princípio controlador buscar aquilo que dará maior prazer e felicidade. E por terem ainda o existencialismo como o sistema ético dominante em suas sociedades, são céticos quanto a um futuro róseo ou bom para a humanidade; são também relativistas, acreditando que o certo e o errado são relativos à perspectiva do indivíduo e que não existem valores morais ou espirituais absolutos.

Por exemplo, um homem que não é feliz em seu casamento e tem um romance com outra mulher com quem se sente bem, geralmente recebe a compreensão e a tolerância da sociedade. Para eles, o certo é ter uma experiência, é agir, o errado é vegetar, ficar inerte. Podemos perceber a influência desse pensamento e modo de agir, em todo lugar. Porque a sociedade atual tende a validar eticamente atitudes tomadas com base na experiência individual.

E por si só, as pessoas são incapazes de seguir até mesmo os padrões que escolhem para si, violando diariamente os próprios princípios de conduta que consideram corretos. No entanto, nós cristãos, sabemos que não existe nenhum manual maior ou melhor que o Modelo Vivo descido dos céus. Onde os ensinamentos de Jesus desvendam aos nossos olhos todo o mal existente no mundo e neles temos uma fonte de sabedoria e refrigério para o nosso dia a dia. Ora, se já sabemos que no mundo teremos aborrecimentos e dores, sofrimentos, não seria mais adequado seguir o caminho apontado? O que nos falta para isso acontecer?

“Não foi como criança que acreditei no Cristo, que confessei sua fé. É de uma vasta fornalha de dúvidas que jorra meu Hosana” (Dostoiévski).[3]

Necessário ter fé e vivenciar a mesma, estar coexistindo e estendendo a compaixão aos outros, e ao mesmo tempo não puxar, exigir ou apegar-se demais (também não deixarmos ser maltratados, pois o primeiro passo para o verdadeiro amor é o amor-próprio não egoísta, e sim, o auto respeito e a autocompaixão, isto é, aplicar em si a mesma consideração madura e saudável).

Muitos conceitos e definições comportamentais éticos dos cristãos são a base para a existência de pensamentos, filosofias e práticas sociais do nosso tempo. Tentar fugir desta realidade é cair em um devaneio utópico existencialista. Quanto a verdade bíblica ser relativa, eu discordo veementemente. O fato de você poder escolher suas ações e tomar atitudes de acordo com o seu entendimento da realidade não configura a veracidade/veredito final sobre o que quer que seja. Concordo que se não tiver fé (crença) na Bíblia ficará muito difícil crer na existência de um autor da mesma, visto que cristão é o que imita/pratica o modelo de Jesus Cristo.[4]

Isso também está diretamente relacionado à compreensão do que fazemos e do que não controlamos, sabendo que: controlamos apenas a nós mesmos e nossas respostas. Nós não controlamos os outros ou o universo e não podemos impedir que mudanças aconteçam, mas podemos controlar como reagimos a elas. Nas entrelinhas, temos aqui um pedido para você examinar todas as suas crenças, independentemente da amplitude, procurando determinar o que é realmente verdadeiro ou não. Sócrates muitas vezes pedia às pessoas que definissem uma virtude, como a coragem, apenas para descobrir que as pessoas que mais a valorizavam não tinham ideia do que era.

Somente quando nós examinarmos nossas vidas teremos possibilidades de melhorias. E quando não houver gentileza, gere gentileza. Seja simpático, empático e use de misericórdia com todos. Sofra como um bom soldado de Cristo. O texto áureo do Cristianismo, que se encontra no Evangelho de Mateus capítulo 7, versículo 12, nos diz claramente que o amor cristão é proativo.

É na Bíblia lida, ou Escrituras Sagradas se preferir, que encontramos o padrão moral revelado por Deus. Os Dez Mandamentos e o Sermão do Monte proferido por Jesus são os exemplos mais conhecidos. Entretanto, mais do que simplesmente um livro com regras morais, as Escrituras são para os cristãos a revelação do que Deus fez para o homem poder vir a conhecê-lo, amá-lo e alegremente obedecê-lo. A mensagem das Escrituras é fundamentalmente de reconciliação com Deus através de Jesus Cristo.

O que pensamos acerca de Deus irá certamente influenciar nosso sistema interno de valores bem como as decisões que precisamos enfrentar todos os dias. Isso vale também para ateus e agnósticos. O seu sistema de valores já parte do pressuposto de que Deus não existe. E esse pressuposto inevitavelmente irá influenciar suas decisões e seu sistema de valores.

Bem, aos poucos você entenderá que a humanidade embarcou num caminho de separação. Separação da natureza, separação uns dos outros, separação da verdade, separação de Deus. É uma crise que, enquanto não estiver completamente resolvida, vai continuar gerando todas as demais crises que temos aí:  financeiras, econômicas, médicas, educacionais, ecológicas, energéticas, alimentares, entre outras. É uma crise múltipla que funciona como um parto que vai nos levar para fora deste mundo de separação e nos conduzir a uma nova história, de reunião, de encontro. Para viver eternamente ou ser condenado eternamente.


[1] São aqueles valores que tomam o ser humano como a medida de todas as coisas, seguindo o conhecido axioma do antigo pensador sofista Protágoras (485-410 AC). Ou seja, são aqueles valores éticos que favorecem escolhas e decisões voltadas para o homem como seu valor maior.

[2] Valores baseados no processo e nas leis da natureza. O certo é o natural, o padrão a ser seguido. A natureza, numa primeira observação, ensina: tudo que contribuir para a seleção do mais forte e a sobrevivência do mais apto, é certo e bom; e tudo o que dificultar é errado e mau.

[3] https://oficinadopinduca.wordpress.com/2019/01/07/takeaway/

[4] https://oficinadopinduca.wordpress.com/2016/09/11/ser-ou-nao-ser-nao-e-mais-uma-questao/

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Devocionais para não devotos XXIX

“Para ganhar um Ano Novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente. É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre”[1]

Resumindo o pós-Réveillon: totalmente acima do peso, desidratados, privados de sono, com os confetes da contagem regressiva ainda presos em nossos cabelos, de repente temos impulsos judaico-cristãos de redenção. Sentamos e nos perguntamos: que resoluções posso tomar para me tornar uma pessoa melhor em 2024?

Alguém já disse que o primeiro capítulo do livro da oportunidade chama-se o dia do Ano Novo. Eu tenho visto muitos desejando que o novo ano seja “o seu ano”, “ano do sucesso” e etc. E penso: sempre é oportuno ser fiel e verdadeiro. Lembro do povo de Israel depois de ter atravessado um período de grande crise, e O Senhor ter dado uma grande vitória, sendo grato e com o profeta Samuel, exclamando: “até aqui O Senhor nos ajudou” (1 Samuel 7:12).

É pertinente olhar para o ano que passou e fazer a mesma exclamação. Se não fosse O Senhor não teríamos chegado até aqui! E depois de declarar esta verdade, tomar o rumo da mudança!

No fundo, a gente sempre sabe o que deve ser feito. Mas o mundo, e nós mesmos ecoando-o, vai nos enganando para protelar essas decisões. Mesmo no sofrimento, estamos acostumados a uma situação e isso significa que sabemos exatamente o que esperar dela, dando aquela famosa sensação de controle. Ilusão prazerosa que nos impede de ser movimentados espiritualmente pela maior virada que pode acontecer na vida de alguém: que é quando crendo em Jesus a pessoa também se arrepende dos pecados, e deixa de caminhar em direção ao inferno e caminha em direção ao céu, vivendo uma transformação completa sendo constantes e não errantes. É exatamente por negligenciarem essa mudança que muitas pessoas estão vivendo uma década difícil: 

“Criamos homens sem peito e esperamos deles a virtude e a iniciativa. Zombamos da honra e ficamos chocados ao encontrar traidores em nosso meio. Nós os castramos e exigimos dos castrados que sejam frutíferos”[2].

Ora, se estamos em uma guerra espiritual, e segundo a Bíblia estamos, não podemos olhar as coisas de uma perspectiva terrena. O Ator Denzel Washington nos lembrou em uma de suas entrevistas que, sem uma âncora espiritual, seremos facilmente levados pelo vento e acabaremos vivendo uma depressão. Ponto para os leitores e praticantes do ensino da Carta de Tiago. E se você leu e não entendeu o motivo, leia o que diz C. S. Lewis:

Quando nós, cristãos, nos comportamos mal ou falhamos em nos comportarmos bem, estamos fazendo com que o cristianismo seja desacreditado diante do mundo exterior[3].

A ideia do escritor do Livro dos Salmos acerca do dia e da noite, faz com que a cada dia surjam possibilidades de coisas novas. No primeiro dia de cada ano a perspectiva do recomeço é ainda maior. Aproveitemos o começo do ano para pedir a Deus que a vida nova, dada a nós por Ele através de Jesus, cresça em nós junto com o seu caráter para que sejamos mais santos e melhores neste novo ano. Porque, ao que parece, recebemos mais um ano de oportunidades para mudarmos tudo. E como seria bom se todos tivessem como base sólida de suas vidas o Senhor Jesus Cristo!


[1] A geração Z não conhece, mas este texto acima, “Receita de Ano Novo”, é de Carlos Drummond de Andrade, no livro “Discurso de primavera e algumas sombras”. 1a ed., São Paulo: Companhia das Letras, 2014.

[2] Citação retirada de C. S. Lewis no livro A Abolição do Homem.

[3] Citação retirada de C. S. Lewis no livro Cristianismo Puro e Simples.

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Devocionais para não devotos XXVIII

O DESAJUSTADO QUE VOLTA PARA A FAMÍLIA NO NATAL*

“Fomos ao culto de Natal, todo mundo enfiado no carro. Vimos as estrelas enquanto nos refugiávamos sob a tenda no pátio da Igreja. Haviam canções lindas, comidas deliciosas, mas nunca ouvi realmente o que o pastor dizia.”
Se ao longo dos anos, a nossa relação com o Natal sofreu uma evolução drástica e hoje o seu significado parece estar mais profundamente enraizado numa tradição perpetuada pela marca do passado do que pelo entusiasmo do presente, a frase acima, colhida em alguma conversa pelas ruas, mostra claramente porquê.
E a menos que você tenha o tipo de família onde todos seguiram o mesmo caminho, uma festa de Natal se resume a pegar pessoas que têm vidas diferentes, mundos diferentes, e juntá-las em um mesmo lugar para orarem ao pequeno Jesus na manjedoura para que tudo seja festivo e não muito estranho.
Para você que se sente um pouco fora do contexto em todas as festas de fim de ano, aqui vão algumas dicas para sobreviver a esse período nem sempre tão festivo.
Primeiro entenda de uma vez que não há problema em estar numa encruzilhada, não estar na fase mais gloriosa da sua vida. Não há problema em estar perdido. Tudo bem não chegar com 14 boas notícias para anunciar a todos. Não há problema em não ter uma longa lista de realizações do ano passado e estar pronto para recitá-la freneticamente para qualquer um que se atreva a perguntar como você está. Existem milhões de maneiras de se vender… E eu garanto que você irá ouvir falar sobre elas. Inventar seu próprio significado de vida não é fácil…, mas ainda é permitido… e eu acho que você irá ficar feliz pelo trabalho.
Não esqueça que a amizade e o prazer de estar juntos terão triunfado sobre o consumismo desta época, e até mesmo, essa “realidade crua que faz você se encaixar nos moldes”, se forem devidamente exercitadas e apreciadas, criando uma vida que reflete seus valores e que satisfaça sua alma, algo que é raro conquistar em uma cultura que implacavelmente promove a avareza e excessos como uma boa vida… uma pessoa feliz fazendo seu próprio trabalho é geralmente considerada excêntrica, se não subversiva.
Eu sei que você está com os olhos cansados. Você não tem mais orientação do que um GPS desatualizado, você anda em círculos. Nada mais de extraordinário há na terra dos falsos campeões. Sua bateria chegou ao fim do ano. Mas irão falar para você de inúmeras maneiras, algumas sutis outras nem tanto, para continuar subindo… e nunca ficar satisfeito com o lugar que você está, quem você é e o que você está fazendo!
Você se questionará, se comparará com as pessoas ao seu redor. Eles não parecem mais felizes do que você de qualquer maneira, isso te deixa feliz? Ambição é somente compreendida se for para subir ao topo de alguma escada de sucesso imaginário. Alguém que pega um trabalho pouco exigente para sobrar tempo para perseguir outras atividades e interesses é considerado descompromissado. Uma pessoa que abandona a carreira para ficar em casa e cuidar das crianças é considerada como se não vivesse o inteiro potencial humano. Como se cargo e salário fossem as únicas métricas do valor humano.
Todo mundo corre um pouco na vida. É um fato. Tente ver os membros de sua família com amor e compaixão. Talvez suas lutas não estejam tatuadas em suas testas, mas eles também são vulneráveis. Todos nós somos. O irmão do pródigo também era.
No entanto, você se sente culpado quando está muito ocupado e quando não está ocupado o suficiente com a sua busca de… VOCÊ CORRE EM DIREÇÃO À SUA PRÓXIMA PAIXÃO, ESPERANDO POR ALÍVIO. VIVER SUA VIDA EM AÇÃO É A ÚNICA BOA MANEIRA DE EXISTIR. Foi o que eles disseram? Prefiro o comentário do William Shakaspeare:“Em nossas loucas tentativas, renunciamos ao que somos por aquilo que queremos ser”.
Então, você não pode vencer, ao que parece. Você está ocupado, mesmo quando não está fazendo nada. Por que é isso que dizem os grandes sábios da nossa era: “finja até conseguir” (“fake it till you make it”). Este conceito diz que devemos nos comportar como se já tivéssemos alcançado o objetivo desejado. Você atrai coisas bonitas quando cuida da sua imagem. Então você se cerca de pessoas de sucesso, das maiores conquistas… sabemos que o filho pródigo tentou isso e não deu certo, pois no fim das contas, quando a realidade criada na sua mente não corresponde, você acaba sempre com as bolotas de porco, percebendo a falta daqueles com quem você se sentiu bem na vida real, e não apenas nas fotos.
E descobre que talvez a felicidade não seja encontrada onde pensamos. Fingindo rir alto em todas as redes sociais, com aquela abundância de dentes brancos demais. Você precisa sair da sua zona de conforto, você é um ser notável com um caráter que deve guiar suas atitudes, e não as circunstâncias a sua volta. E nada é mais forte do que passar na vida por um momento desconfortável para entender isso.
Ser confrontado com a verdade real não é o que você aprecia? Porque se deseja viver uma nova vida precisa saber que isso pode confrontá-lo com muitas coisas que estavam erradas na antiga, e que você vai se culpar. Você desperdiçou parte da sua vida ou pelo menos não a viveu da maneira que poderia. Você viveu sua adolescência como adulto, mas não tem o direito de cometer os mesmos erros, você agora é um homem. Isso quer dizer que não podemos escapar da miséria do mundo, nem do papel que nele desempenhamos, conscientemente ou não. “ESSE VIÉS DE NEGATIVIDADE SIGNIFICA QUE SENTIMOS A DOR DA REPRIMENDA COM MAIS FORÇA DO QUE A ALEGRIA DO ELOGIO”. Ponto para o pai do pródigo!
E fica pior quando sabemos que o cérebro humano muitas vezes só é calibrado para reter o pior e minimizar cruelmente o melhor. O cérebro foca no negativo porque identifica o “negativo” como uma ameaça em potencial. A princípio, isso acontece porque o cérebro é bastante perceptivo para tudo que se apresenta fora do padrão, errado, contrário às expectativas ou atípico.
Essa propensão é chamada de “viés negativo” – ou “assimetria positivo-negativo” – e consiste, como explica a página Very Well Mind, em “não apenas registrar estímulos negativos com mais facilidade, mas também em persistir nesses eventos”.
Portanto, vai levar um tempo para que esta assimetria se equilibre e para que o excesso de mal permita que o bem que experimentou durante este ano também venha à tona. E quem sabe você não acabe por lembrar da maneira amorosa que a sua família ou seu pai cuidava de você?
Por fim, você precisa estar tão em paz com suas escolhas que não se sinta obrigado a se justificar, nem para eles nem para si mesmo. Afinal, todos temos um pouco de filho pródigo, algum desajuste social, que nos faz desejar voltar para a casa do pai e encontrá-lo de braços abertos, não é mesmo?

* Parábola do filho pródigo: https://www.bibliaon.com/versiculo/lucas_15_11-32/

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Devocionais para não devotos XXVII

1 Coríntios 13:4-7: O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece, não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta …

Ter que ser apenas útil pra alguém é uma coisa muito cansativa. É interessante você saber fazer as coisas, mas acredito que a utilidade é um território muito perigoso porque, muitas vezes, a gente acha que o outro gosta da gente, mas não. Ele está interessado apenas naquilo que a gente faz por ele. É por isso que a maturidade é um tempo em que passada a utilidade, fica só o significado das pessoas. Esta é uma chance para que muitos estejam se purificando de uma existência utilitarista, não é mesmo? É aquele momento em que a gente vai ter a oportunidade de saber quem nos ama de verdade. Porque se nos ama vai ficar depois que a utilidade não for mais o foco principal.
Em nossa vida cristã também não é diferente. Pagamos um preço alto quando negligenciamos nosso bem-estar e buscamos apenas relações utilitárias. Algumas vezes parece ser suficiente só nos dedicarmos por alguns minutos à oração ou à leitura bíblica, mas aquilo que precisa ser vivido continuamente na prática é o amor, pois a afirmação de Jesus em Lc 10.42* ainda é verdadeira e continua valendo até hoje, porque ela aponta para aquilo que é importante: o amor. Talvez precisemos abrir mão de alguns detalhes, mas encontraremos plenitude somente quando nosso foco for para a única coisa que realmente importa: Amar a Deus e ao nosso próximo “samaritanamente”.
O amor de Deus pelo homem é livre, espontâneo e não merecido; mas como Senhor soberano, Deus exige o homem para si mesmo, para uma vida de amor. Deus exige a resposta do “eu total”: “Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força” (Mc 12.30). Por esta razão, no próprio ato pelo qual Deus revela seu amor ao homem, ele o desafia com um segundo mandamento: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mc 12.31). Assim, pode se afirmar que o homem jamais poderá amar o seu próximo de maneira cristã a não ser que ame a Deus com todo o coração, alma, mente e força; pois, à parte da confiança em Deus e lealdade final a ele, o amor do homem e seus semelhantes ou é egoísta ou idólatra, ou as duas coisas.
A fé cristã declara, então, que todos os homens são de igual valor para Deus e que todos partilham igualmente de seu amor; consequentemente, o cristão tem de imitar a universalidade bem como a espontaneidade e o altruísmo do amor divino.
Você sabe, sempre vai ter algumas pessoas por perto que se sentem desanimadas e tristes ou simplesmente não sabem o que fazer… E se você ver alguém que parece estar passando por uma situação difícil, passando por um momento difícil ou precisando de um abraço, dê-lhes um grande abraço! Se for um pouco de atenção, dê-lhes atenção. Mas faça o que puder para que experimentem um pouco do amor não utilitário. Só continue espalhando este amor em nome de Jesus!
Por isso eu sempre peço a Deus para poder envelhecer ao lado das pessoas que me amam. Aquelas pessoas que possam me proporcionar a tranquilidade de ser “inútil”, obsoleto mesmo, mas ao mesmo tempo, não me percebam sem valor. Quero ter ao meu lado alguém que saiba acolher a minha inutilidade. Alguém que possa saber que eu não servirei para muita coisa, mas que ainda assim, enxergue o meu valor como um ser humano.
Porque a vida é assim, viu? Se você quiser saber se o outro te ama de verdade é só identificar se ele seria capaz de tolerar a sua inutilidade. E vice-versa. Quer saber se você ama alguém também? Pergunte a si mesmo: quem nesta vida poderia ficar sem servi-lo e você não sentiria o desejo de deixá-lo do lado de fora do seu coração? É assim que descobrimos o significado do amor. Só o amor e não a utilidade, nos dá condições de cuidar do outro até o fim. Só ele atende as necessidades humanas, produzindo a verdadeira virtude. Porque sem amor só resta ser utilizado, e aí, não sobra espaço para ser misericordioso.
Outra coisa importante sobre as pessoas é que quem é bom não consegue esconder o seu amor pelos outros. Por isso eu digo: feliz aquele que tem ao final da vida, a graça de ser olhado nos olhos e ouvir do outro: “você não serve pra nada, mas eu não sei viver sem você, porque você sempre me amou”!
Como cristão, eu ainda acrescento: tome cuidado para que a sua visão de mundo não esteja baseada em uma metáfora falsa que você tenha recebido de alguma fonte falível. Metáfora de vida é aquela figura que lhe vem à mente quando você imagina seu modo de viver, seu destino daqui para frente.
Óbvio que terá que contestar o pensamento convencional e secular, substituindo pelas metáforas cristãs e bíblicas da vida, e se realmente quiser, siga este conselho bíblico:
“Não vivam como vivem as pessoas deste mundo, mas deixem que Deus as transforme por meio de uma completa mudança da mente de vocês. Assim, vocês conhecerão a vontade de Deus…**

*[Jesus disse:] Entretanto, pouco é necessário ou mesmo uma só coisa… (Lc 10:42)

**Warren, Rick. Você não está aqui por acaso. Tradução James Monteiro, São Paulo, Editora Vida, 2005.

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TRÊS PALAVRAS IMPORTANTES PARA O NOVO ANO.

Pr Eber Jamil's Weblog

ano novo

Estamos no início de um novo ano creio que três palavras são importantes nesta ocasião: REFLEXÃO, GRATIDÃO E ESPERANÇA.

A REFLEXÃO é importante porque final de ano é tempo de retrospectiva, de balanço, para avaliarmos como foi o nosso ano. Precisamos ponderar sobre os nossos erros e acertos para planejarmos as nossas ações para o ano que se inicia.

A GRATIDÃO é fundamental. Ser grato pela vida, por mais um ano que Deus concedeu, e mesmo que tenhamos atravessado tempos difíceis a gratidão é sinal de cura, de que apesar das lutas o nosso coração não foi azedado.

A ESPERANÇA é algo que sempre deve nos mover para frente. Teremos, se Deus quiser, mais um ano pela frente. Portanto, a esperança será uma mola propulsora para avançarmos e conquistarmos os propósitos de Deus para nossas vidas.

Minha oração é que nesta virada de ano não te falte REFLEXÃO, GRATIDÃO E…

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Dias mais tranquilos chegarão em breve?

Aceite que os dias sombrios fazem parte da vida cotidiana e até divirta-se com eles.


Nesta época do ano, as pessoas estão celebrando mais do que a tradição cristã e a continuação da vida: celebram a saída de casa. Por que apesar da pandemia ainda estar lá fora, a vida continua em busca de uma normalidade perdida,  e as modificações surgidas, principalmente aquelas que têm a ver com o nosso dia a dia, são verdadeiramente avassaladoras. Então, parece ser este o motivo da vida ao ar livre ter virado o centro das atenções: poder estar novamente nas ruas, praças, bares, na praia ou o campo. Acredito que estamos muito obcecados em absorver e refletir a luz do dia, seus tons alaranjados… E ficamos felizes de uma vez mais termos a oportunidade de fotografar, caminhar e contemplar o “novo normal” juntos, após estes dias turbulentos, e começar a caminhar para o que alguns chamam de normalidade. Todos estão perguntando: Dias mais tranquilos chegarão em breve? Mesmo não vivendo mais aqueles tempos pré pandemia, buscamos ser pessoas mais maduras e desenvolver coisas novas dentro de nossas limitações e possibilidades. Mas o que estamos precisando, urgentemente, é de reabilitação e desenvolvimento, estamos precisando de envolvimento humano profundo. Tratar o homem integral, com sua história. Porque olhando em volta percebo que continuamos frios em relação ao outro, com a mesma obsessão pelo “apêndice celular”, pois esse foi ou é o ponto de fuga de todos durante o ano todo, o que não minimiza o fato de o homem de hoje como o homem de há dois mil anos atrás, o homem de sempre, debater-se com o seu sentido e propósito, com a sua identidade, com a sua origem e com o seu futuro.

O que tinha que acontecer acontece: nessa sociedade já defeituosa, a maravilha tecnológica cai nas mãos erradas ou inaptas. O progresso poético-tecnológico que salvaria a humanidade de sua mediocridade mecânica apenas automatiza mais seu progresso material comum em detrimento do seu aprimoramento espiritual  e intelectual. E mesmo assim, a quantidade de mal que o homem comete contra o homem é incalculável. leia as palavras que o Novo Testamento usa para descrever os tipos de pecados que os humanos cometem contra os humanos: malícia, inveja, assassinato, contenda, engano, fofoca, calúnia, arrogância, insolência, vanglória, inventores do mal, desobediente aos pais, sem coração , implacável, odiado pelos outros e odiando uns aos outros (Romanos 1: 29–32; Tito 3: 3).

Se você deixar seus olhos percorrerem esta lista de pecados, perguntando, a cada palavra, qual seria seu efeito em nossas atitudes para com os outros, você não se surpreenderá com isso. Se somos “maliciosos”, quanto mais com aqueles que são diferentes de nós. Se “assassinamos”, quanto mais aqueles que são diferentes. Se “enganamos”, quanto mais o estranho. Se “caluniarmos”, será muito mais fácil caluniar aqueles que são diferentes. Se formos “arrogantes e insolentes”, será mais fácil nos exaltarmos sobre aqueles “outros” que consideramos inferiores. Se “odiamos”, quem melhor para odiar do que aqueles que não gostam de nós. (A Bíblia usa uma palavra principal para resumir tudo isto: “hostilidade”, Efésios 2:14).

O cristianismo conta com dois mil anos de existência. Despontou num contexto cultural, social, político e econômico totalmente diverso do nosso. Por causa disso muitas pessoas desacreditam da atualidade do cristianismo face às novas realidades. Esquecem-se ou ignoram que o ensino cristão (os Evangelhos) não se dirige ao que no homem e na sociedade é efêmero e passageiro, ao que é acessório, transitório e acidental; mas ao que é essencial e, portanto, que permanece. É por causa de basearmos a nossa existência em superficialidades e individualismo, que o homem moderno ainda interroga-se acerca da sua presença no universo e sobre a possibilidade de relacionar-se com o que o transcende. E não importa onde a tecnologia e a ciência os possam levar,  sempre dentro do homem existirá o anseio de unir-se a algo maior e melhor, que é o objetivo de sua busca pelo divino. Sobre isso Moltmann diz: o que torna o futuro do homem tão promissor não é a ideia moderna de progresso ascendente e evolutivo inerente ao homem, mas, simplesmente, a morte e ressurreição de Cristo. Não importa se a ressurreição é verificável como um evento histórico; que “algo” aconteceu para dar aos primeiros cristãos sua imensa esperança é evidência suficiente já que continua até hoje movendo multidões sob sua influência. Além disso, argumenta Moltmann, embora a Ressurreição possa ser “o sinal da esperança futura”, a própria cruz, por meio do sacrifício de Cristo, significa “esperança para os desesperados”.  Por causa da época acrescento ainda que o nascimento de Cristo, sem o qual não teríamos um sacrifício ou a possibilidade de ressureição, é o maior e mais promissor indício da possibilidade de “paz na terra aos homens de boa vontade” desde o advento até hoje, ou seja, se queremos dias mais tranquilos, aconchegantes apesar dos pesares, precisaremos evoluir muito como seres humanos, no campo do comportamento e da moralidade.

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Devocionais para não devotos XXVI

Nós nos tornamos aquilo que pensamos. Repetidamente temos lido e ouvido sobre isso. Entretanto, de um momento para outro, certos espaços passaram a nos ser vedados; certos comportamentos impedidos, isto nos obrigou a fazer uma reorganização de nossa mente, pois é mais fácil reformular toda a nossa vida, adaptando-se, do que enfrentar a mudança exterior, examinando-a, ou, pelo menos, tentar entender porque ela aconteceu. E mesmo os mais novos desdobramentos do pensamento humano ainda carregam consigo questões que já se tornaram clássicas. No auge de nossa era, chamada por alguns de pós-moderna, hipermoderna, líquida ou, simplesmente, de modernidade tardia, ainda nos deparamos com esforços intelectuais que procuram dar cabo da velha discussão sobre teoria versus prática. Ao que parece, a sedutora representação dicotômica da forma de vida humana, partida em âmbitos práticos e teóricos, não foi exorcizada do imaginário cultural do Ocidente. Esta forma de pensar nos faz esquecer de uma coisa muito importante: aquilo que fazemos na vida ecoa para a eternidade.

A situação de violência, morte, injustiça e corrupção em nossa época mostra claramente que o reino de Deus não está sendo pregado como deveria e que, aparentemente, quando é pregado, as pessoas não estão entendendo. E não entendem por que não é exposta biblicamente, porque não existe uma sã doutrina (2Tm 4,3; Tg 1,9). Não se pode esperar profundas mudanças individuais e sociais, desde que não haja razão que exceda a ganância pessoal; enquanto o crente não for impelido pelo amor de Jesus Cristo e motivado a buscar primeiro seu reino e sua justiça, cada um estará pensando em como “aproveitar” Deus e a Igreja para construir “seu próprio reino”, falsificando a mensagem bíblica e minimizando a ética e moral cristãs.O absurdo desta situação vai num crescendo, e torna-se mais inquietante quanto mais se revela a bagunça criada. Um pesadelo acordado na verdade!

Nas últimas duas décadas vimos a desvalorização do ser humano, e ao longo desses anos, como a sensibilidade a outros seres humanos diminuiu. O mundo tem tolerado um nível muito alto de crueldade. É como uma inoculação no subconsciente, como se consentíssemos com essa violência e depois começássemos a praticá-la porque já estávamos acostumados. Os velhos grupos extremistas (religiosos ou não) voltaram e se tornaram uma infecção, uma doença novamente, e o valor da vida diminuiu e até alguns dos líderes tradicionais começaram a fazer certas coisas, porquê há um movimento dedicado à morte como forma de espiritualidade. A aberração tornou-se um hábito, como este “novo normal” do covid (eu odeio essa expressão), que se tornou moda:

“Ora, onde os parâmetros podem ser mudados para criar um outro apenas mais adequado a minha atual posição, além de uma rejeição ao anterior, cria também uma relação de valor entre os mesmos, e o uso dessa relação para inibir uma escolha visando privilegiar uma posição particular em detrimento da coletiva é relativismo. Moralmente, temos valores e regras que desde muito tempo vem sendo praticadas visando a sustentação das relações humanas, miná-las usando de um novo valor apenas para benefício de um contingente particular de indivíduos em detrimento de outros, depreciando e deteriorando a prática social e rebaixando-a à níveis irracionais e instintivos, fazendo da sociedade e suas relações um lugar onde só imperam o ceticismo, o medo, a indiferença e a imoralidade é relativismo ético da pior espécie. Este relativismo como prática é uma cobertura que não atende, é como usar uma peneira para tapar o sol, não normatiza, não normaliza a relação entre os indivíduos e entre estes e a divindade, porque banaliza o valor real de suas existências, cuja causa comum em nossos dias são os limites entre o que é legal e o que é moral e certo estarem cada dia mais imperceptíveis.”*

Os esforços teológicos de muitas igrejas, tanto protestantes quanto católicas, têm se concentrado nas aspirações egoístas de alguns líderes que concentraram poder religioso e riqueza econômica para si próprios às custas de seu rebanho. A teologia atual deve responder a essa visão materialista e secularista, novamente, com as verdades do reino de Deus. Poucos querem o reino de Deus porque não oferece muito, não é muito visível, exige muito e dá pouco, mas é o meio pelo qual Deus quis que os homens pudessem alcançar a justiça e a paz, pois o reino de Deus está, no primeiro lugar, espiritual, não material (Rm 14,17: “porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo”).


* https://oficinadopinduca.wordpress.com/2015/10/04/citacoes-que-nao-sao-obrigacoes-nao-deveriam-valer/amp/

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Devocionais para não devotos XXV

“Todos os dias quando acordo…” E não é que o “chato” do Renato Russo estava certíssimo? Não temos um tempo próprio além daquele em que estamos inseridos. Buscar viver só para si não produzirá uma instância particular, uma bolha espaço-tempo onde posso produzir e experimentar à vontade, ad aeternum, sem arcar com as consequências por mais que a ideia me seja agradável!

Amanheci sozinho, na cama um vazio, meu coração que se foi, sem dizer se voltava depois, sofrimento meu, não vou aguentar, se a mulher que eu nasci pra viver, não me quer mais. *

Hoje foi difícil acordar, viu? Ahhhh! Vocês já olharam a quantidade de gente criativa que existe no mundo unicamente para criar expectativas irrealizáveis nos outros? Na verdade, uma outra boa dica para hoje é que a parte que me falta é completada quando sou a minha parte primeiro e de mais alguém simultaneamente. Rapaz! Isso é completitude e alteridade pura! Para manter a memória acesa vou citar alguma coisa. Lá vai, uma de Albert Einstein:

A percepção do desconhecido é a mais fascinante das experiências. O homem que não tem os olhos abertos para o misterioso passará pela vida sem ver nada.

É a coisa mais misteriosa que existe: a verdade; não esta verdade relativa e adequada a mim, mas a absoluta. Isto porque se ela é mostrada todo dia, ela nos devasta, nos causa raiva, e é preciso ter calma para aceitá-la também. Nada feito com verdade dá certo no tempo errado. Por isso a mentira grassa, porque apesar do desgaste, mentir prolonga um pouco mais as relações até o inescapável ponto de ruptura. Mais uma citação para vocês:

“Porque a verdade gera o ódio? Por que é que os homens têm como inimigo aquele que prega a verdade, se amam a vida feliz, que não é mais que a alegria vinda da verdade (gaudium de veritate)? Talvez por amarem de tal modo a verdade que todos os que amam outra coisa querem que o que amam sejam verdade. Como não querem ser enganados, não se querem convencer de que estão no erro. Assim, odeiam a verdade, por causa daquilo que amam em vez da verdade. Amam-na quando os ilumina, e odeiam-na quando os repreende.” (Sto. Agostinho, Confissões, Livro X, 23, 34)

É por isso que perdemos tempo demais olhando os bastidores da vida alheia quando deveríamos estar protagonizando a própria (e tão efêmera!) existência? Quando deveríamos viver uma vida real plena de excelência estamos existindo apenas em conformidade com as “necessidades” de ajustamento ao senso comum e midiático desses tempos pós-modernos, e, pior ainda, estamos moldando nossos jardins de maneira a ter o tom da grama do vizinho, que como todos sabem, é sempre mais verde! Parece que existimos para estar sempre em busca de um sentido, sentido este que na prática seria ordenador, entretanto não o queremos assim, pois gostamos mesmo é de olhar o mundo através de telas e janelas eletrônicas, onde preferimos curtir sem realizar, podemos julgar sem experimentar ou entender, onde a maior janela está diante de nós oferecendo ação in loco e uma oportunidade de exercermos nossa personalidade, de manifestarmos um caráter capaz de influenciar, buscar o bem, praticar uma virtude, ser aprimorado, mas que é ignorado e rejeitado por uma causa simples: Não queremos perder tempo de jeito nenhum. Nem mesmo para pensar. Fazer escolhas? Muito menos. Queremos o gabarito da vida porque não queremos ficar de fora e um clique não custa nada. Então viva os layouts prontos! Copiemos o modelo social de sucesso! Hashtag Somos todos default. Não se preocupe com sua essência foque na aparência, naquilo que é mais confortável. Mas como seria viver se parássemos um pouco para pensar sobre o assunto? (Podem dizer que a cafeína me deixou prolixo também, tudo bem.)

Talvez para fugir disso você tenha que vencer por excelência da verdade, que é o seu esforço para se adequar a um pensamento maior ou melhor que o seu, devendo com isso chamar para si a responsabilidade pertencente a todo indivíduo livre, para poder ver o problema de forma honesta e pensar soluções sendo corajosos. O famoso “dê o melhor de si sempre e cresça”. Porque se você é um sonhador, você é um lutador também! Saiba de uma coisa, se você não desistir será a cada dia melhorado. Quem sonha, quem acredita e quem luta sabe fazer acontecer, e faz acontecer! E mesmo com medo segue em frente, porque quando o medo bate, vai com medo mesmo assim. Mas lembre-se disso: se você colocar muitas expectativas nas coisas e elas não fluírem, você acabará tomando decisões erradas apenas para poder suprir essas expectativas! Cuidado com esta atitude equivocada!

“Quando tudo nos parece dar errado acontecem coisas boas que não teriam acontecido se tudo tivesse dado certo”. O redundante Renato Russo de novo!

*https://www.vagalume.com.br/roupa-nova/volta-pra-mim.html

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